segunda-feira, 27 de outubro de 2008


História da Tv Record



Às 20 horas do dia 27 de setembro de 1953, era exibido um programa musical apresentado por Sandra Amaral e Hélio Ansaldo.
Naquela época, só a TV Tupi estava no ar. Uma grande concorrente que a RECORD enfrentou mas, que já na década seguinte, conseguiu superar. A sorte estava lançada e a história da emissora que mais contribuiu para a evolução da música popular brasileira estava começando. Equipada com o que havia de mais avançado na época, causou impacto na imprensa. O jornal "O Estado de S. Paulo" publicou uma matéria de página inteira com o título: "Entra no ar em São Paulo uma das maiores tevês do mundo". Estava provado que a ousadia dos proprietários, a família Machado de Carvalho, valia a pena.
A primeira transmissão interestadual de um jogo de futebol foi uma aventura digna dos filmes de western. Os técnicos da TV Record enfrentaram lama e contaram com a ajuda do lombo de burros para instalar microondas no topo de morros no Vale do Paraíba, com telas de galinheiro. Até esse dia, o sinal de TV nunca tinha ultrapassado um raio de sessenta quilômetros em torno das cidades que tinham estações. A primeira imagem foi do locutor esportivo Silvio Luiz passeando pelo calçadão de Ipanema. É importante lembrar que a Record era uma das emissoras da família Machado de Carvalho que encabeçava as "EMISSORAS UNIDAS"(de rádio: Rádio Record - SP; Rádio Panamericana - atual Joven Pan, SP; Rádio Bandeirantes, até 1947, quando os Saad a adquiriu; TV Record - Canal 7 de SP; TV Rio - Canal 13 do RJ). Era famosa a história do endereço da Record em São Paulo, na Av. Miruna. Porque o número do prédio é, até hoje 713, que conforme as UNIDAS, seria Record + TV Rio ( 7 +13).Nos primeiros anos, a emissora dedicou-se a programas musicais como "Grandes Espetáculos União", apresentado por Blota Jr. e Sandra Amaral, tornando-se líder de audiência em pouco tempo. Além de shows, a TV RECORD investiu em telejornais. Mas, a programação esportiva era um dos grandes trunfos da emissora.
Programas como o famoso "Mesa Redonda", criado em 1954 e apresentado por Geraldo José de Almeida e Raul Tabajara, fizeram escola na televisão. A emissora resolveu sair em campo e transmitir, ao vivo, partidas de futebol. A partir daí, tornou-se imbatível na cobertura esportiva, transmitindo quase todos os acontecimentos esportivos em São Paulo, como as lutas do Campeonato de Pugilismo. A RECORD foi a primeira emissora a transmitir, ao vivo, o Grande Prêmio de Turfe do Brasil, em 1956, direto do Jóquei Clube do Rio de Janeiro.
O teatro e o humor também tinham espaço na emissora. Programas como o "Circo do Arrelia", com o palhaço Arrelia, "Praça da Alegria", de Manoel da Nóbrega e a famosa novela "Éramos Seis", fizeram sucesso na década de 60.






Na linha de shows, grandes momentos foram marcados pela apresentação de artistas internacionais nos palcos da emissora. Participaram estrelas como Louis Armstrong, Bill Halley e seus Cometas, Nat King Cole, Sarah Vaughan, Charles Aznavour, Marlene Dietrich, entre outros. A emissora investiu em astros internacionais até 1965, quando houve a ascensão da Música Popular Brasileira. O "Show do Dia 7" foi outro grande momento na programação da emissora, apresentando musicais, desfiles de moda, entrevistas e comédia.
A emissora estreou o primeiro programa de calouros da tevê brasileira. "A Hora do Chacrinha", apresentado por Abelardo Barbosa, o Velho Guerreiro, que se tornou um dos maiores comunicadores do país. Na linha infantil, destaca-se o "Pullman Jr.", comandado por Cidinha Campos e Durval de Souza, que ficou no ar durante 16 anos.
Mas, o grande sucesso de audiência da RECORD, marco na história da televisão brasileira, aconteceu em 1965: "O Fino da Bossa", apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. A partir daí, a RECORD trouxe para o cenário musical novos talentos como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Zimbo Trio e Maria Bethânia, além dos já consagrados Agostinho dos Santos, Nara Leão, Vinicius de Moraes, Baden Powel e Maysa. Depois veio "Bossaudade", apresentado por Elizete Cardoso e Ciro Monteiro. Roberto Carlos já estava nas paradas e foi convidado para apresentar o programa "Jovem Guarda". A RECORD mantinha o primeiro lugar em audiência. Com todos esses valores musicais, a realização do II Festival da Música Popular Brasileira foi uma conseqüência. Solano Ribeiro foi convidado para dirigir os Festivais da RECORD e o resultado só podia ser um: sucesso total.
Depois vieram "Essa Noite se Improvisa", com Blota Jr. e Sônia Ribeiro, "Alianças Para o Sucesso", "Caras e Coroas", "Guerra é Guerra", "Show em Si ... Monal", "Corte Rayol Show", com Renato Corte Real e Agnaldo Rayol, "Quem Tem Medo da Verdade", "A Hora do Bolinha", "Família Trapo", "Bronco Total" e "A Buzina do Chacrinha".
A Família Trapo merece um capítulo a parte na história da RECORD. Criada em 1967 e escrita por Carlos Alberto de Nóbrega e Jô Soares foi, sem dúvida, o humorístico de maior sucesso da televisão brasileira. No elenco, Renata Fronzi, Otelo Zeloni, Cidinha Campos, Ricardo Corte Real, Sônia Ribeiro, Jô Soares e Ronald Golias. A Família Trapo liderou a audiência no horário durante três anos e fez escola.




O jornalismo também foi pioneiro na emissora. Em 1972, o jornalista Hélio Ansaldo estreou um telejornal diferente que, além de informar, debatia os temas em pauta, com a participação de especialistas. Era o "Tempo de Notícias" que depois passou a se chamar "Record em Notícias", e foi apresentado por Murillo Antunes Alves, até 1996.
No final dos anos 70, a RECORD enfrentou vários incêndios, além da concorrência que crescia com a entrada de novas emissoras no ar. Mas, mesmo assim, o Canal 7 detinha o segundo lugar em audiência em São Paulo. Foi nessa época que Sílvio Santos, empresário e comunicador, passou a fazer parte da TV RECORD.
Surge então, uma nova fase na emissora. O primeiro passo foi investir na expansão da tevê, visando a cobertura total do Estado de São Paulo. Depois, foi a vez de estrear novos programas como a reedição de "Almoço com as Estrelas", o infantil "Bozo", "Sala Especial", o humorístico "Dercy aos Domingos", com a irreverente Dercy Gonçalves e o "Perdidos na Noite", com Fausto Silva. Em 83, entra no ar o programa feminino "A Mulher dá o Recado", que passou a se chamar "Nova Mulher", apresentado pela jornalista Beth Russo. O programa "Especial Sertanejo", com Marcelo Costa, passou a fazer parte do elenco da RECORD em 1984, lançando os grandes nomes da música sertaneja. O jornalismo também ganhou nova força. Danti Matiussi assumiu a direção do departamento e colocou no ar o "Jornal da Record", comandado por Paulo Markun e Silvia Poppovic, mais tarde, apresentado por Carlos Nascimento.
Em 1991, muda o controle acionário da emissora e começa uma nova fase, passa das mãos de Silvio Santo (sócio majoritário) e Paulo Machado de Carvalho (no momento havia se tornado o sócio minoritário) para as mãos da Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo Bispo Edir Macedo. A RECORD entra com uma nova programação, mantendo o jornalismo como carro-chefe. Séries e filmes foram comprados, resgatando alguns sucessos de sua história. Nessa nova gestão, a RECORD passa a ser rede. Antes, contava apenas com São Paulo, Franca e São José do Rio Preto. Veja aqui as emissoras pertencentes a REDE RECORD. Um grande nome surge na programação da emissora, em 1993. Com um programa feminino chamado "Note e Anote", Ana Maria Braga mostrou ao telespectador que veio para ficar. De 1991 a 1995, a REDE RECORD passou por grandes mudanças, transformando-se em uma grande tevê brasileira e voltando aos tempos áureos de sua inauguração.
Em 1995, a REDE RECORD investiu pesado em equipamentos e mudou de sua antiga sede no bairro do Aeroporto, para uma nova instalação, na Barra Funda. A partir daí, a emissora passou a contar com os equipamentos mais sofisticados da televisão brasileira. No final de 1995, a emissora colocou no ar o programa "Cidade Alerta" que, desde os primeiros meses foi sucesso absoluto e emplacou como jornalístico popular. Seu sucesso foi tão grande que o programa logo elevou os índices de audiência no horário e ocupou, por várias vezes, a segunda colocação na grande São Paulo.



















1996 foi um ano de crescimento para a REDE RECORD. A emissora elevou os índices de audiência e consolidou o terceiro lugar, passando a disputar a vice-liderança. Eduardo Lafon, Diretor de Programação da Rede, firmou a programação da emissora em jornalismo, cinema, esportes e shows. Nessa época, surgiram os programas Ana Maria Braga que, ao lado do Especial Sertanejo e do Quem Sabe ... Sábado!, com Renato Barbosa, passaram a compor a linha de shows da emissora. REDE RECORD, A NOVA FORÇA DO ESPORTE tornou-se slogan da emissora, quando foram contratados profissionais da área esportiva. A partir daí, a REDE RECORD passou a cobrir os grandes eventos esportivos e deu um grande salto. A equipe da emissora foi para Atlanta e cobriu os Jogos Olímpicos de 1996.
A REDE RECORD, em 1997, continuou com as contratações e investimentos em tecnologia e expansão de rede. Boris Casoy foi um dos contratados, que reforçou o jornalismo, impondo credibilidade e imparcialidade. Carlos Massa, o Ratinho, veio para a RECORD no segundo semestre de 1997 e foi considerado o grande fenômeno de comunicação do ano. Com isso, a REDE RECORD reforçou seu núcleo de profissionais. Outro grande destaque, ainda em 97, foi a implatação do núcleo de teledramaturgia que produziu minisséries e uma novela, "Canoa do Bagre", com grande sucesso. No segundo semestre, uma parceria com a VTM Produções foi criada e, com isso, mais seis minisséries foram ao ar, além de uma superprodução intitulada "Desafio de Elias", que foi vendida para sete países. São eles: México, Chile, Panamá, Equador, Venezuela, Colômbia e Porto Rico. A partir desse período, importantes nomes da teledramaturgia brasileira voltaram a participar das produções da emissora. Entre eles, Gianfrancesco Guarnieri, Othon Bastos, Lolita Rodrigues, Márcia Real e Sérgio Viotti. Para atender todo o crescimento da rede, a frota de veículos foi trocada e todos os departamentos foram informatizados.
REDE RECORD TODO MUNDO VÊ marcou o ano de 98. Com este slogan e uma programação diversificada, a emissora elevou os índices de audiência, aumentando a média mensal e confirmou seu crescimento. Novamente em parceria com a VTM, foi produzida a novela Estrela de Fogo, que trouxe grandes nomes como Fúlvio Stefanini e Cristina Prochaska de volta às telas. Filmes premiadíssimos foram comprados reforçando o acervo de longa-metragens da REDE RECORD. Títulos como "O Paciente Inglês", "A Poderosa Afrodite", "O Outro Lado da Nobreza", "O Quinto Elemento" e "Breakdown". As séries mais premiadas da tevê mundial também foram compradas. Entre elas, estão os sucessos mundiais "Arquivo X" (The X-Files), "Millennium" (Millennium) e "Edição de Amanhã" (Early Edition).
Também na área técnica, a REDE RECORD superou as expectativas e investiu no que há de melhor e mais moderno. Novos estúdios, transmissores com maior potência, unidades móveis, "Sillicon Graphics", equipamentos digitais com câmeras de última geração, som e iluminação para uma imagem perfeita no ar. A potência do transmissor passou de 30 KW para 60 KW. A antena e o transmissor estão instalados no edifício Grande Avenida, na Avenida Paulista. O helicóptero Águia Dourada da REDE RECORD, um dos mais modernos do mundo, começou a sobrevoar a cidade de São Paulo.
A expansão da rede não pára. Hoje, a REDE RECORD conta com 63 emissoras entre próprias e afiliadas e centenas de retransmissoras espalhadas por todo território nacional. A Copa do Mundo 98 foi outro importante passo da emissora em coberturas esportivas. Mesmo com pouco tempo para preparar as transmissões e uma equipe reduzida, a REDE RECORD conseguiu fazer uma cobertura de primeira, mostrando tudo o que aconteceu na França, no último mundial do século. Fala Brasil, uma revista jornalística diária, Repórter Record com Goulart de Andrade e Disque Record, com Gilberto Barros também estrearam neste ano. Outro grande lançamento de 1998 foi o infantil Vila Esperança que resgatou a fase de programas infantis inteligentes, instrutivos e divertidos, que há muito tempo não se via na tevê. Na mesma semana, Gilberto Barros estreou o LEÃO LIVRE, um programa feito para o povo, em horário nobre.


Em outubro de 1998, a REDE RECORD adquiriu sua primeira unidade móvel totalmente digital: um caminhão com quatro câmeras, um switcher e 3 vts com slow-motion. A unidade conta também com dois geradores próprios de energia. Mas, os investimentos não param. A emissora também adquiriu um carro de UP link que proporciona o fechamento de links direto do satélite, de qualquer lugar, através de uma parabólica colocada sobre o veículo, sem a necessidade de conexão com a Embratel ou outra empresa de telecomunicações. Para dar continuidade ao projeto de crescimento, a REDE RECORD investe em contratações. O jovem ganhou espaço na emissora com o Galera, apresentado por Alexandre Frota e Juliana Garavatti. Para reforçar a afirmação: Lugar de Criança é na Record, o gênero infantil ganhou força com a contratação da apresentadora Eliana. Na linha de shows, um nome de peso passou a compor o "cast" da emissora: Raul Gil. Foi produzida a segunda fase da novela ESTRELA DE FOGO, a novela que virou sucesso na reimplantação da teledramaturgia da emissora. Em novembro de 1998, José Paulo Vallone assumiu a Direção de Programação na emissora, permanecendo no cargo até 22 de Setembro de 1999. O executivo implantou novos programas, de gêneros distintos, na REDE RECORD.1999 - Um ano marcado de novidades. Quando a nova direção propôs investimentos e mudanças, ela não decepcionou. Apostou em novas contratações e novos programas, mudou o perfil da grade de programação, criando um rosto novo para a emissora.Para preencher o espaço da teledramaturgia deixado pela produção da novela Estrela de Fogo - 2ª Fase, entrou LOUCA PAIXÃO. Um remake de "2-5499, Ocupado", primeira novela diária da televisão brasileira, exibido em 1963 pela TV Excelsior. LOUCA PAIXÃO, que atingiu a excelente média de 12 pontos no ibope, contou com um elenco de peso, com nomes como os de Maurício Mattar e Karina Barum. Reforçando a linha de shows na tela da RECORD, o público foi presenteado com musicais como o AMIGOS E SUCESSOS, programa que reuniu música e emoção na medida certa, com apresentadores variados.Empenhado nestas mudanças, o diretor de programação José Paulo Vallone, não parou por aí. A idéia de criar um novo programa, com um novo formato se realizou: SEM LIMITES PRA SONHAR, que também só poderia ser apresentado pelo carismático FÁBIO JR. Com exibição semanal, o programa conta com vários quadros e com um cenário totalmente diferente e sofisticado. Para dar ainda mais um tom de harmonia, a programação apostou no humor. ESCOLINHA DO BARULHO surge na tela da Record com uma turma do barulho. Mas estes alunos não estão muito interessados em estudar, as palavras de ordem são muita diversão e alegria.Os bastidores da REDE RECORD, já estão dando o que falar. ZAPPING está à frente de todos os acontecimentos. Apresentado por Virgínia Nowicki, o programa mostra a realidade por trás das câmeras, erros de gravação, detalhes de filmagens, entrevistas com personalidades. Nada escapará das lentes de ZAPPING.Até o final do milênio, os maiores sucessos de bilheteria com astros internacionais e aclamados diretores passarão pela tela da RECORD. A emissora comprou um pacote de mais de quarenta longa-metragens que foram exibidos em sessões semanais. Ação, Suspense, Drama, Romance, Comédia, Terror e muita Aventura. O gênero infantil não fica atrás. Para alegrar a criançada, a RECORD adquiriu novos desenhos. Um deles é o famoso Laboratório de Dexter, A Vaca e o Frango, O Recruta Zero e o polêmico POKÉMON. Nas tardes de domingo, mais uma opção para o telespectador. ELIANA NO PARQUE, com um público diversificado - até então restrito ao infantil - atrai não só a participação dos jovens, como também de toda a família. Um programa recheado de atividades e gincanas, envolvendo disputas culturais e esportivas entre escolas. Completando a grade do domingo, foi produzido o FALA BRASIL - EDIÇÃO DE DOMINGO. No ar até julho, o jornalístico era apresentado por José Luiz Datena, Adriana de Castro e Rosana Hermann.O Departamento de Jornalismo ganha um novo diretor, José Luiz Gonzaga Mineiro, que vem com prioridades: remodelar o departamento, qualificar as notícias e implantar uma cobertura internacional com correspondentes. Um compromisso com o telespectador.O programa de maior destaque da tevê brasileira e que mais se identifica com a mulher de hoje, ganha um novo rosto. À frente do NOTE ANOTE, Cátia Fonseca. Contrariando inevitáveis comparações com sua antecessora, Cátia imprimiu o seu próprio estilo. Seu jeito descontraído, doce e discreto, aos poucos conquistou o telespectador, mantendo a audiência do programa.Em setembro estreou o TV GENTE, programa que também possui um quadro diário no Note e Anote. Apresentado por Nelson Rubens, o dominical mostra as fofocas e os bastidores das badalações do mundo artístico.Já em outubro, o jornalismo da RECORD recebeu o reforço do SÃO PAULO NOTÍCIA. Apresentado por Eleonora Paschoal e Miguel Dias, o noticiário era exibido das 13h às 14h.Em 1999 também estreou QUARTA TOTAL, uma produção alegre e descontraída, que reúne toda a família numa só torcida e com apresentação de Gilberto Barros, sempre às quartas-feirasEm setembro de 1999, a Direção de Programação da REDE RECORD ganha um novo profissional: Marcus Aragão. Ex-assessor da presidência da emissora, o executivo tem em seu currículo 4 anos de RECORD, tendo tramitado por quase todos os setores da Empresa. Com a proximidade do final do ano, é dele a responsabilidade de produzir e programar os especiais que irão comemorar as festas, bem como a formatação da grade de programação do ano 2000. A REDE RECORD entrou com o pé direito no ano 2000. Em parceria com a BBC de Londres, a emissora transmitiu o "2000 Hoje", programa que mostrou as comemorações da virada do ano, realizadas nos quatro cantos da Terra. Uma transmissão que deu bastante prestígio e visibilidade a Record, pelo eneditismo e qualidade do projeto.Formatada por Marcus Aragão, diretor de programação da emissora, o canal estreou várias produções e até lançou novos talentos. Entre eles ED BANANA, apresentado por Edilson Oliveira, que até então só atuava como ajudante de palco de Eliana com o personagem Chiquinho. A produção, descontraída e tropical, ficou no ar até abril do mesmo ano para, posteriormente, ser reformulado. O RISOS E CASSETADAS, dentro da linha do humor, mesclou "pegadinhas" com "videocassetadas" e as imitações de Sandro Almeida, um humorista paraense descoberto no Programa Fábio Jr.Gilberto Barros ganha seu segundo programa na Record: o DOMINGO SHOW, um divertido game musical, que tem como participantes atores, cantores, modelos e esportistas. Ainda na linha de game, a emissora lançou o Top TV, usando como mote os 50 anos da televisão brasileira nas perguntas formuladas.A turminha teen ganhou um moderno e diferente programa: o PROGRAMA DA HORA, apresentado pela menina cantora Thaís Pina. E, dentro da programação infantil, o ELIANA & ALEGRIA teve sua audiência aumentada em 100%, sendo o programa que mais cresceu nos últimos 12 meses. A produção, apresentada pela charmosa e bela Eliana, ganhou novos desenhos como POKÉMON - um grande sucesso entre as crianças, tornando-se líder de audiência -, bem como ULTRAMAN TIGA e DONKEY KONG. Na linha desenho animado ainda foram lançados o FUTURAMA e o BEAST WARS. Novos anos de seriados consagrados da Record também entraram na programação 2000, tais quais LASSIE e TERRA - CONFLITO FINAL. O lendário RIN-TIN-TIN, original colorizado, foi uma das grandes estréias no gênero seriado, assim como O CORVO.No âmbito do esporte, a emissora, em parceria com a Octagon Koch Tavares, estreou o ESPORTE RECORD, apresentado por Adriana Colin e com entrevistas de Wanderley Nogueira. Na mesma parceria, a Record transmitiu os maiores mundiais de tênis, incluindo o de Roland Garros que deu o título de número 1 do mundo ao brasileiro Gustavo Kuerten, o Guga. A partida final deu o primeiro lugar a Record, com 13 pontos de média e pico de 25.O ano também foi bastante marcado pela reimplantação da teledramaturgia da emissora, que até fevereiro de 2000 co-produzia novelas. No dia 8 de maio estreava MARCAS DA PAIXÃO, às 20h, escrita por Solange Castro Neves e dirigida por Atílio Riccó, tendo Irene Ravache, Claudio Cavalcanti, Nathália Thimberg e tantos outros medalhões das telenovelas brasileiras. Já vislumbrando um segundo horário para suas próprias produções no gênero, foi lançada a mexicana OLHAR DE MULHER no horário das 21h.No segundo semestre de 2000, estreou na RECORD a novela VIDAS CRUZADAS, a primeira novela moderna que se passa na Bahia e não possui nenhum sotaque se quer; isto, ao mesmo em que enfoca os encontros pela Internet como um costume normal da juventude brasileira.O jornalismo da RECORD, dirigido por Luiz Gonzaga Mineiro, sofreu algumas reformas: o JORNAL DA RECORD - 2ª EDIÇÃO passou a ser apresentado por Salette Lemos e o SÃO PAULO NOTÍCIA ganhou o reforço de Rodolfo Gamberini na apresentação com Simone Queiroz.Hoje a Rede RECORD possui em seu grupo da REDE FAMÍLIA, totalmente voltada para a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), e a REDE MULHER, que em 5 de março de 2001 mudou-se para a primeira sede da Record, na Av. Miruna, 713, reformando o prédio e alojando os seus novc.


Fonte: Site oficial da Rede Record. Complementação feita pelas equipes do Canal 1 / Telecentro e parte biográfica do site da Rádio Joven Pan. Imagens dos Departamento de Divulgação / Record e outros também pesquisados para o Acervo do Canal 1; e Arquivos de Imagem do Centro Cultural São Paulo. estações.

A HISTÓRIA DA MANCHETE


A Manchete começou a circular em abril de 1952, um ano depois de Adolpho Bloch ter apresentado o projeto de criação de uma revista a Henrique Pongetti e Raimundo Magalhães Júnior, amigos intelectuais, e a Pedro Bloch, primo e médico foniatra. Imigrante russo naturalizado brasileiro que aqui chegou com a família em 1922, Adolpho Bloch apostava que havia lugar no mercado para mais uma revista de circulação nacional, ou seja, que poderia concorrer com O Cruzeiro. Com base na experiência adquirida nas tipografias da família — na antiga URSS, em Jitomir e Kiev, e no Rio de Janeiro — alicerçava-se nas possibilidades de introduzir inovações editoriais na publicação e aprimoramentos técnicos no equipamento gráfico para vencer o desafio de concorrer com O Cruzeiro. O investimento inicial foi pequeno e o custo de produção era baixo: as máquinas da tipografia da família, ficando ociosas três dias na semana, podiam imprimir edições semanais da Manchete de 200 mil exemplares. Ainda assim, a revista custava o mesmo preço da principal concorrente.
A lucratividade da empresa era surpreendente. Em poucos anos, a Manchete ocupava um prédio próprio na Rua Frei Caneca, no bairro da Lapa, que fica próximo do centro e onde estavam instalados vários jornais e a revista O Cruzeiro. Foram adquiridas máquinas para imprimir 800 mil exemplares semanais e um terreno no subúrbio de Parada de Lucas, onde se construiu o parque gráfico. Inversamente à estratégia de O Cruzeiro de alardear tiragens inacreditáveis, a Manchete não revelava essa informação. A estimativa só pôde ser feita com base no relato de Adolpho Bloch sobre a capacidade das rotativas8.
O investimento em equipamentos e instalações foi simultâneo à reformulação da política editorial de 1956. A mudança abrangeu todos os setores da publicação, transformando a paginação e atualizando o texto, com o objetivo de fornecer ao leitor elementos necessários à compreensão dos acontecimentos. A equipe de redação foi reforçada. Do quadro de jornalistas, redatores e colaboradores — selecionados entre pessoas de destaque no meio intelectual — fizeram parte Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Joel Silveira, Orígenes Lessa, Raimundo Magalhães Júnior, Guilherme Figueiredo, Otto Maria Carpeaux, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Antônio Maria, Nelson Rodrigues, Marques Rebello, Paulo Mendes Campos, Lígia Fagundes Telles, Antônio Callado, Sérgio Porto, Ciro dos Anjos, Olegário Mariano, Jânio de Freitas e muitos outros. Jean Manzon, que trabalhou para a Paris Match e O Cruzeiro, foi o principal fotógrafo. Ao seu lado, estiveram Darwin Brandão, Gil Pinheiro, Gervásio Baptista, Fúlvio Roiter, Jader Neves etc.
O primeiro número da Manchete estampava na capa uma bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e alardeava como exclusividades "Uma grande reportagem de Jean Manzon" e "A verdadeira vida amorosa de Ingrid Bergman". O fundo escuro, contrastando com o dourado de uma carruagem que servia de cenário e com as chamadas emolduradas em vermelho, desagradou ao próprio Bloch9. A revista era pouco atraente: papel de qualidade inferior, diagramação ruim, e a matéria de capa era a única colorida.
Por volta de 1956, com a aquisição de novas impressoras, o padrão gráfico ganhou qualidade. Nahum Sirotsky, que sucedeu a Henrique Pongetti no cargo de editor geral, foi o responsável pelas mudanças. O sucesso ele creditou ao grupo formado por Alberto Dines, Darwin Brandão, Newton Carlos, desenhistas, técnicos e gerentes. O apogeu da Manchete coincidiu com o declínio de O Cruzeiro10 e com a transferência de dezessete jornalistas deste periódico para a Manchete, em 1958, por divergirem da postura ética do proprietário.
Politicamente, a revista se identificava com a corrente desenvolvimentista antiliberal e industrializante11 do pensamento econômico. Adolpho Bloch era amigo e dedicava irrestrito apoio ao governo Juscelino Kubitschek, desde a campanha eleitoral. É de sua autoria o slogan "50 anos em 5", muito embora a sua revista fizesse críticas à política de saúde e educação. Antes dele, João Alberto Lins de Barros foi outro político que teve espaço na publicação. Já O Cruzeiro pendia sempre para posições ideológicas conservadoras — próximas da corrente do pensamento denominada neoliberal —, alimentando verdadeira aversão aos monopólios de Estado, a pretexto de salvaguardar os interesses dos capitais privados nacionais e estrangeiros. Desse modo, Getúlio Vargas era execrado, bem como João Alberto, seu antigo colaborador e presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.

A CIÊNCIA EM MANCHETE
Na Manchete não havia uma seção dedicada à ciência — como existia para política, comportamento, cinema, teatro, culinária e outras tantas assinadas — nem tampouco era especializada no assunto. Ciência e tecnologia foram temas de fotorreportagens exclusivas, bem como apareciam em pequenas notas ou nas seções consagradas: "O Brasil em Manchete", "O mundo em Manchete", "O leitor em Manchete", "Notícias que valem Manchete", "Manchetinhas" e "Posto de Escuta". Ainda que nessas seções predominassem notícias sobre concursos e viagens de misses, catástrofes, política e economia, astros e estrelas do cinema e do teatro, há registros da passagem de algum cientista famoso pelo Brasil e de acontecimentos relevantes no campo da ciência. As notícias referiam-se mais a acontecimentos científicos que tiveram lugar em países estrangeiros (58%) do que à incipiente produção científica do país (42%). A disparidade não parece ser tão grande, porque há muitas matérias sobre aplicações da ciência na área da saúde pública.
Os editoriais do período 1952-62 não faziam referência à ciência. O editorial publicado em 5 de fevereiro de 195512, assinado por Henrique Pongetti e intitulado "Ratos no ciclotron" — o desfalque no Projeto dos Sincrociclotrons13 —, foi uma exceção. Porém, a tônica não era o problema da corrupção, o "caso Difini", mas a ameaça que o físico brasileiro Cesar Lattes teria feito de encerrar a sua carreira científica caso o culpado não fosse punido. Apelos emocionados, enumerando as dificuldades financeiras enfrentadas pelo CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e comparando as carreiras científicas de Lattes e Enrico Fermi caracterizam a opinião da revista.
Num estilo próprio, a revista apropriou-se da linguagem e do discurso do fotojornalismo. As fotografias ocupavam em média 70% das páginas nas fotorreportagens, mas chegavam a ocupar páginas inteiras. Os textos e legendas preenchiam as lacunas entre títulos e subtítulos, fotografias, gráficos, desenhos e quadros que eram inseridos para facilitar a compreensão dos leitores. No estilo literário da época e com um português primoroso, a linguagem dos textos era quase poética e se inspirava na fotografia principal da matéria. Sem perder de vista o caráter informativo e quase didático, as matérias traziam informações sobre a confirmação de fatos científicos e sobre novos artefatos e processos tecnológicos, tais como: medicamentos, vacinas e tratamentos de doenças; biografia de cientistas; atividades de pesquisadores de disciplinas emergentes; avanços tecnocientíficos; inauguração de institutos, laboratórios e instrumentos de pesquisa; congressos científicos e questões de saúde pública. Neste caso, há informações sobre a controvérsia de tratamentos e confronto de opiniões, mas não há nada à respeito das controvérsias de cientistas em seu campo de ação. Estas raramente ultrapassam os domínios exclusivos da ciência, permanecendo na esfera de atuação do laboratório, onde a ciência tem autonomia.
A imagem fotográfica é uma forma particular de comunicação: imagens e texto se complementavam. Ao flagrar acontecimentos, selecionar momentos singulares e registrar o cotidiano, ela provoca de imediato algum tipo de emoção no leitor, podendo ser captada como realidade. A imagem fotográfica encurtava os caminhos da leitura e facilitava a apreensão de informações, haja vista o impacto causado pelas primeiras fotografias de guerra publicadas na imprensa, no início do século XX, e a repercussão das imagens entre civis que nunca haviam estado em um front14. À primeira vista, o discurso de apropriação estética empresta verossimilhança à informação, ampliando a credibilidade do tema abordado e reforçando a confiabilidade no veículo de comunicação. Folheando um exemplar da Manchete, mesmo os analfabetos teriam sido capazes de apreender informações sobre o Sputnik, a criação da Petrobras, a bomba atômica, a vitória no tênis de Maria Esther Bueno, a morte de Getúlio Vargas, etc. Poderiam ainda conferir o luxo de fantasias do carnaval do Rio de Janeiro e deliciar-se com fotos de Sacha Distel e Brigitte Bardot.
A análise dos textos de divulgação científica leva em consideração, além da política editorial, a ética, a fidedignidade das informações, as opções de linguagem e os cuidados na transposição do discurso científico para o discurso jornalístico15. Afora o jornalismo científico não ser uma especialidade nos anos 50, cientistas e jornalistas brasileiros pertenciam ao mesmo grupo social, freqüentando os mesmos ambientes. Mesclavam-se no meio intelectual e na imprensa o cientista estava no mesmo patamar de outras personalidades públicas (políticos, bispos, rainhas, intelectuais, atrizes e jogadores de futebol). Cientistas brasileiros, cujas contribuições passariam à história da ciência, eram tão poucos que não ficavam no anonimato. Não eram, como hoje, integrantes ou coordenadores de grupos de pesquisa experimental e co-autores de trabalhos assinados com dezenas de colegas. Eles próprios, como recorda José Leite Lopes, interferiam na construção da imagem da ciência, visando estreitar o relacionamento cientista-jornalista-público e abreviar o tempo da comunicação. Contrastando com a tendência atual, contribuíam o fato das matérias se centrarem na personalidade e a maior mobilização política dos cientistas.
Cientistas foram capa da Manchete e assunto de chamadas — frases curtas, de efeito e sem rigor na pontuação sobrepostas à fotografia —, o que revelava prestígio na sociedade e, também, que a revista valorizava a atividade científica. Sobremaneira, as imagens de capa mais recorrentes foram as misses, atrizes, vedetes, bailarinas e modelos. Em média, a cada seis capas destacando a mulher, um político era o personagem eleito. Dentre os outros temas contemplados na capa estão a cultura popular (Rei Momo e Papai Noel), moda e crianças.
Na edição da semana de 31 de maio de 1952, a capa era uma foto do Instituto de Manguinhos com a chamada "Manguinhos não é uma torre de marfim." Na semana seguinte, era um cientista ao microscópio e a frase: "Um milhão de cruzeiros por um mosquito." No primeiro número, havia duas matérias sobre ciência. Uma, tratava do dia-a-dia dos cientistas de Manguinhos: condições de trabalho; infra-estrutura; pesquisas em andamento; produção de vacinas; registrava que os cientistas recebiam salários de Cr$3.700,00, e trazia ainda fotografias de Walter Oswaldo Cruz, Olympio da Fonseca, Cassio Miranda, Nogueira Penido, Paulo Muniz e Miguel Ozório. A outra matéria, em cores, apresentava o entomologista Ferreira d’Almeida — dono de coleção de mais de vinte mil borboletas — que, depois de ser carteiro, tornara-se "naturalista auxiliar" do Museu Nacional. Já no número seguinte, em junho, a reportagem de capa tratava da malária — do mosquito transmissor, regiões mais afetadas, número de mortes —, enfatizando a carreira do sanitarista Manuel Ferreira no Serviço Especial de Saúde Pública e na Faculdade Fluminense de Medicina. Publicou-se, ainda no mesmo número, uma reportagem intitulada "Vinte parlamentares médicos à cabeceira do Brasil", com a fotografia 3 x 4 e a identificação do partido político de cada médico que passou à política. Em junho, a revista ainda tratou de questões decorrentes da aplicação da física, da bomba atômica16.
Era evidente o empenho da Manchete na divulgação da ciência, no ano em que começou a circular. Em dois números do mês de julho foram publicadas reportagens sobre ciência ou aplicações da ciência: "A medicina progride. Novas aplicações da eletroterapia"; e "Físicos discutem física", com fotografias de Álvaro Alberto, Arthur Moses, José Leite Lopes e outros no Simpósio sobre Novas Técnicas da Física. O mesmo aconteceu em agosto de 1952 nas reportagens: "As esposas falam de seus maridos famosos" — Martha Lattes ressaltou os hobbies de Cesar Lattes; e "A luta contra a dor. Agora temos a hipo-anestesia. Não se sente e não se vê a broca"17.
O resultado da classificação das reportagens e notas por área do conhecimento confirma a predominância das matérias sobre saúde e biologia, embora tenham sido apresentadas em separado (Quadro 1). Certamente, a prática médica é o assunto de maior apelo no cotidiano das pessoas. A engenharia, por causa das matérias sobre satélites e corrida espacial, aparece em segundo lugar. Sobre a física — então a ciência de fronteira — as matérias estavam vinculadas ao contexto da Guerra Fria e ao uso pacífico da "energia dos átomos". As fotografias eram enormes e sempre acompanhadas de legendas explicativas.
No início da década de 1950, o desenvolvimento das pesquisas sobre a poliomielite e o aumento do número de crianças contagiadas se reflete nos resultados do Quadro 1, nas colunas saúde e biologia. Não obstante a interferência de fatores relacionados à produção científica e a freqüência dos assuntos abordados não apresentar mudanças significativas, no período da reformulação editorial da Manchete (1956) o foco se transfere dos cientistas de maior projeção social para a divulgação das grandes pesquisas científicas, a big science.
À medida que o tempo passava e aumentava a experiências dos editores, Manchete se tornava mais superficial para agradar a mais leitores. Quando se tratava de médicos, valorizava-se o grande especialista, as viagens dos mesmos para congressos eram noticiadas no "Posto de Escuta", e os diretores de hospitais eram citados nominalmente. Aparentemente, havia matéria paga sob o véu de história de instituições médicas ou troca de favores. Neuroses, enfarto e câncer eram consideradas "as três pragas do século"18.
Dois assuntos destacados pela revista tinham grande repercussão na época: a utilização da energia nuclear — devido às discussões sobre o seu uso pacífico, a bomba atômica e a exploração das reservas nacionais de minerais radioativos —, e os programas espaciais soviéticos e americanos. A partir de 1958, foi grande o número de leitores que escreveram para a revista a respeito desses assuntos. O lançamento do Sputnik, em outubro de 1957, incitou sobremaneira o imaginário popular já povoado pela possibilidade de vida extraterrestre, discos-voadores e por heróis do espaço. O russo Yuri Gagárin, o primeiro cosmonauta, protagonizou fotorreportagens de várias páginas da revista, principalmente em sua passagem pelo Brasil. Seu nome e sua imagem correram o mundo e até hoje é citado pela mídia. Virou marca de cigarro na URSS e, no Brasil, inspirou a mãe de Yuri Gagárin da Silva19.
Em "O leitor em Manchete" — seção na qual a revista mantinha um canal aberto com o público leitor — uma carta com o título "Astronáutica russa" é elucidativa:
Algo está destoando na sua revista: o modo como vêm sendo divulgadas as façanhas científicas da URSS e o total desprezo pelos feitos dos EUA, nossos aliados naturais. Enquanto os americanos lançam 28 satélites de comprovado valor científico, cujos resultados são postos à disposição do mundo, a Manchete tem cuidado de publicar, exclusivamente, os pensamentos de cachorros e ratos (n.442) ou as palavras de um futuro astronauta russo (n.443).
Em resposta, assinalou o editor: "Se o leitor verificar mais atentamente, poderá constatar que as reportagens referentes às conquistas espaciais por nós publicadas seguem um estrito critério de imparcialidade." 20
Nos países industrializados da Europa e da América do Norte, a tecnologia desenvolvida para fins bélicos — energia nuclear, radar, mísseis — tanto fortalecia o poder político e militar como era usada para acelerar o ritmo do crescimento da economia. Centralizadas, políticas científicas e tecnológicas passaram a ser formuladas, pretendendo a solução de múltiplos problemas dessas economias. Contudo, a disputa político-ideológica levava os governos soviético e americano a investir maciçamente na publicidade em torno dos avanços científicos em veículos de comunicação de massa de vários países. Manchete acompanhava diretamente esse processo por meio de contrato com as agências internacionais de notícia. Leon Eliachar, de forma satírica, remete ao tema:
O Sputnik veio provar uma coisa: que em matéria de satélites ninguém pode competir com a Rússia. O Vanguard veio provar outra coisa: que em matéria de espaço tanto faz ao americano conquistar a ionosfera como o espaço de um jornal — ambos dão publicidade. O lançamento do Sputnik veio evidenciar que em matéria de astronáutica a ciência russa está mais adiantada do que a americana, o que evidentemente os fará chegar primeiro à Lua. Mas eu não ficarei surpreso se os russos chegarem à Lua e lá encontrarem espalhados cartazes por todos os lados: Sejam bem-vindos. Bebam Coca-cola. 21
Já no Brasil a produção de conhecimentos científicos e de energia nuclear eram tidos como as soluções para superar o atraso crônico da nação e como forma de ostentar a grandeza cultural e o poder político-militar. Aqui, assim como lá, Exército e Marinha foram os primeiros a estreitar os vínculos com os produtores de ciência. Associavam a industrialização e os recursos naturais com política, emancipação econômica e soberania. A despeito da conseqüente emergência das armas nucleares ter quebrado o vínculo entre poder militar e poder econômico, as preocupações do Terceiro Mundo estavam em outro estágio22.
A aliança entre ciência e militares foi a principal responsável pelo aumento da produção científica. Do mesmo modo que não se pode inferir que os militares defendiam a utilização da energia nuclear na produção de eletricidade como mera estratégia técnica, é ingênuo supor que não tivessem interesse na tecnologia dos armamentos nucleares. Já os físicos — Cesar Lattes, Jayme Tiomno, Hugo Camerini, José Leite Lopes e Marcelo Damy, personalidades fotografadas pela Manchete — eram de uma geração em que a guerra condicionou as opções sociais, políticas e filosóficas. Queriam fazer ciência no país.
A publicidade em torno de Cesar Lattes — o físico mais citado — explicita a predisposição dos veículos de informação em selecionar arquétipos capazes de oferecer uma representação de suas áreas de atuação. Como os mitos do cinema e do esporte, a seleção dos eleitos na imprensa não é desinteressada mas depende das relações que se estabelecem entre os campos sociais. No caso da ciência, entretanto, parece não funcionar da mesma forma, pois o próprio Lattes procurou — apesar de tê-la utilizado — desfazer sua imagem mítica quando não mais lhe interessava em O Cruzeiro.
Os critérios utilizados para eleger as dez mais elegantes do ano ou para escolher a mais bela atriz de cinema eram diferentes dos parâmetros empregados pela imprensa para identificar os cientistas mais produtivos. Na reportagem "61 o ano louco", Jaime Tiomno é o destaque do meio científico, pela contribuição à física teórica. Como o seu trabalho sobre o méson K foi considerado relevante pelos seus pares, a Manchete explicou aos leitores: "No campo da ciência, o professor Jaime Tiomno foi o Colombo do méson K, e deu mais um título para o Brasil na empolgante aventura da era atômica. Outro cientista com destacada atuação este ano: Marcelo Damy". Assim, imprimindo a marca do sensacionalismo na divulgação da ciência, a revista ainda destacou que "Na ciência, nos esportes e na música popular surgiram caras novas.