sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Universidade da Cidade
Campus: Ipanema
Curso: Comunicação Social- Publicidade & Propaganda / Jornalismo
Disciplina: História da Comunicação
Profª: Margareth Carino
Turno: Noite
Grupo:
Daniel Melo
Leandro Norberto
Leonardo Mega
Lucilene Camelo de Sousa
Maria Pilar Lopes
Rodrigo Botto

Bibliografia: Internet

http://moniqueoliveira.wordpress.com/tag/movimento-hippie/

http://www.cebrap.org.br/imagens/Arquivos/a_democracia_no_brasil.pdf

http://www.mundovestibular.com.br/articles/4272/1/A-DEMOCRACIA-NO-BRASIL/Paacutegina1.html

www.tudosobretv.com.br

http://br.geocities.com/memorialdatv/recordind.htmhttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882001000200013&script=sci_arttext
Ditadura Militar

UMA ARMA DO GOVERNO MILITAR BRASILEIRO

Esse artigo visa destacar o discurso social promovido pela ditadura militar brasileira utilizando-se dos meios de Comunicação Social de massa como forma de doutrinar a população em torno dos ideais do governo. Para isso, toma como base a televisão, cujo desenvolvimento deve-se ao Regime Militar.
Tal investimento foi justificado por tratar-se de um veículo de comunicação de massa com potencial para disseminar a cultura da integração nacional e as ideologias pretendidas à época. Detaca também o período de maior repressão do governo, como mais um exemplo da projeção que a ditadura fez sobre a mídia audiovisual, como reconhecimento do potencial desses meios de disseminar a cultura de massa e, conseqüentemente, a ideologia desejada.

A cultura de massa é caracterizada como uma manifestação cultural produzida para uma camada numerosa da população em geral, sem diferenciação social, religiosa,etária, gênero, psicológica, étnica, caracterizando um público homogêneo. O produto veiculado é elaborado pelos meios de comunicação de massa, ou seja, aqueles destinados ao grande número de pessoas: jornais, rádio, revistas, televisão, cinema, internet, dentre outros. Um exemplo de um meio de comunicação não massivo é o telefone, pois esse é processo interpessoal. Esse sistema de produção cultural que pretende atingir toda a sociedade com a intenção de, moldar hábitos e dominar o processo de informação foi denominado “indústria cultural”. Essa expressão foi criada pelos teóricos Theodor Adorno e Max Horkehimer, da Escola de Frankfurt3.

A Ditadura de olho na tevê Na década de 1950, o Brasil vivenciou a democracia. Foi um período de transição política entre o Estado Novo (1937-1945) e o Golpe Militar (1964). No cenário mundial, os países dividiam-se em dois blocos: o capitalista ou ocidental, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista ou oriental, liderado pela União Soviética. Nesse contexto mundial, surge a televisão no Brasil, em 18 de setembro de 1950 e é a economia do País que determina a contradição para surgimento do novo veículo, como explica Eugênio Bucci (1997, p. 23).

A tevê foi a arma do Governo Militar como instrumento de integração nacional evaleu-se do seu poder para se desenvolver. João Batista de Andrade (2002, p. 20-21) conta como foi essa ajuda de mão dupla: Concessão estatal – preso, portanto, aos ditames do poder político, mas ao mesmo tempo visto agora como um setor de algo poder de influência e, principalmente, grande negócio, o negócio do futuro –, o sistema de TV serviu ao regime militar dando a ele uma cara e um instrumento de comunicação impositiva, linha única de cima para baixo, tendo o povo como massa pacífica bombardeada pelos “podes” e“não podes” dos militares e seus seguidores. Ao mesmo tempo, serviu-se do regime militar,engordando sua estrutura, atraindo fatia cada vez maior das verbas publicitárias e aproveitando-se de facilidades para se modernizar (importações facilitadas, isenções de taxas e impostos, uso de serviços públicos como antenas repetidoras, etc.). De sua parte, também os militares se serviram da TV, como cria própria de seus interesses numa soberania nacional baseada na centralidade política e no nacionalismo simbólico.“Até 1965 apenas 15% das famílias brasileiras contavam com um aparelho de televisão”, lembra João Batista de Andrade (Ibidem, loc. cit.). Foi justamente nesse ano que o governo fechou os olhos para o surgimento da que seria a maior emissora de televisão do País, a Rede Globo de Televisão:
A Constituição Federal, em seu artigo 160, proibia a associação de grupos nacionais de comunicação com grupos estrangeiros, mas os militares fazem vista grossa e rejeitaram a CPI, instituída em 1966, para julgar os acordos entre a Globo e o grupo norte-americano Time-Life (Priolli, 1985, p.25).
Na década de 70, o Estado torna-se mais autoritário e, portanto, mais dependente da sua porta-voz eletrônica: a televisão. E quanto maior era a necessidade de comunicação do regime, mais a televisão brasileira se beneficiava e se desenvolvia. Instruída pelo regime, ela entra na década de 1970 levando paz aos lares brasileiros, como conta Gabriel Priolli (1985, p. 34):
O Brasil entra nos anos 70 com guerrilhas, seqüestros, atentados e repressão militar. No vídeo,entretanto, tudo vai vem. Os telespectadores emocionam-se com a bravura de Tarcísio Meira em “Irmãos Coragem”, ficam enternecidos com Regina Duarte em “Minha Doce Namorada”, riem
Em 1972, o governo encontrou outra forma de falar do passado, desviando a atenção dos brasileiros para o presente e desincentivando os roteiros originais. O Ministério da Educação lançou um prêmio anual para filmes adaptados de obras literárias de autores mortos. Fora a História e a Literatura, a produção nacional era desprestigiada em detrimentos dos filmes importados. A comercialização de filmes estrangeiros era muito barata, e os cineastas brasileiros pressionam o governo a adotar medidas para onerar o filme importado, tais como: copiagem em laboratórios brasileiros, elevação da taxa de censura e realização de material publicitário no Brasil. Este último foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 1977.
A dublagem, condenada na década de 1960 sob o argumento de aproximar o filme estrangeiro do público brasileiro, foi defendida nos anos 70 sob a alegação de onerar os filmes estrangeiros e ainda obrigar os exibidores a investirem em acústica. Não foi só a carência de investimentos que marcou a indústria cinematográfica brasileira na década de 1970. A exibição também foi cerceada, como estranha Jean- Claude Bernardet (1979, p. 36):
Em 1977, a estrutura da reserva modifica-se novamente: devido ao sucesso, a longa permanência
de filmes brasileiros em cartaz fez com que algumas salas cumprissem uma grande percentagem
da reserva com um único título; por isso, resolve-se que os filmes cumpririam a obrigatoriedade
durante apenas quatro semanas num mesmo cinema. [...] Basicamente questionável foi ter criado uma reserva de mercado para o filme brasileiro, quando deveria ter sido criada é para o filme importado. Era limitar a importação e circulação do filme estrangeiro, a fim de se deixar desenvolver o filme brasileiro. O Estado fez o contrário, e ao fazer isto, é o cinema estrangeiro que de fato ele protege, cerceando a produção local, a quem sobram as migalhas. Devido à predominância do filme internacional direcionando o olhar do espectador brasileiro e satisfazendo o interesse do governo, a produção nacional tentou se salvar imitando a concorrência, tendendo ao mimetismo. Jean-Claude Bernardet (Ibidem, p.70) explica: O mimetismo consistiria mais ou menos no seguinte: já que o público está vinculado ao espetáculo estrangeiro, produzir filmes brasileiros que satisfaçam no espectador os gostos e as expectativas criadas pelo cinema estrangeiro. Trata-se de reproduzir no Brasil o produto importado. Nesse mercado dominado por filmes estrangeiros, o filme documental exerce seu poder de resistência que, segundo Jean-Claude Bernardet (Ibidem, p. 72), Consiste em elaborar filmes que apresentem ao público justamente aquilo que o filme estrangeiro não pode apresentar: o Brasil. [...] Venham ver os sertões, os tatus, os índios, os jacarés, as cachoeiras. A valorização da paisagem virgem brasileira funciona como uma resposta à industrialização que não é brasileira. À industrialização opõe-se à grandiosidade, a suntuosidade da natureza brasileira, intocada pela industrialização.

Outra forma de resistência ao filme estrangeiro, nos anos 70, foi a pornochanchada, a comédia erótica. Eram filmes de baixo custo e rentabilidade alta que atraíam milhares de espectadores.
No entanto, de todos os governos militares, o de Geisel (1974-1978) foi o que mais deu atenção ao cinema nacional. Ele aumentou o capital da Embrafilme, ampliou a reserva de mercado e criou o Concine – Conselho Nacional de Cinema.
Deve tentar-se entender a atuação cinematográfica deste governo no quadro geral de sua política
cultura. Houve um esforço por parte dos governos militares no sentido de fortalecer os mecanismos capazes de criar uma hegemonia ideológica e cultural, não só nos setores populares
com organismos como o Mobral, como na classe média com a criação ou dinamização de organismos como o SNT – Serviço Nacional de Teatro, INM – Instituto Nacional de Música, Funarte – Fundação Nacional de Artes, etc., e os organismos cinematográficos (Bernardet, 1979,
p. 64).
Nos meios de comunicação audiovisuais, o regime viu um poderoso instrumento de propaganda e ouviu sua própria voz. O cinema fala de passado, autores mortos, erotismo, comédia, importa e imita mercadoria estrangeira. Ipojuca Pontes (1987, p. 79) baseia-se na resenha cinematográfica dos anos 70 para avaliar a década que, segundo ele, foi marcada “Pela presença da pornochanchada, do filme alegórico e da experiência udigrudi”. Assim, para os resenhistas, Ainda agarro essa vizinha, Cassy Jones, Viúva virgem, Os mansos, e ainda, Azyllo muito louco, Os deuses mortos, Quem é Beta?, além de O rei do baralho e Piranhas do asfalto são alguns dos filmes representativos da década. Mas a resenha não fica por aí. Ela qualifica Guerra conjugal, Como era gostoso o meu francês, São Bernardo, Os inconfidentes como “filmes sérios e pouco convencionais”, considerando, por outro lado, D. Flor e Lúcio Flávio como obras de apuro comercial (Pontes, 1987, p. 79) (grifo nosso). Bernardet (1979, p. 67) sugere, ainda, que o cinema brasileiro dos anos 70 tenha sido a mostra de “uma sociedade sem contradições”, e exemplifica com os filmes Tenda dos Milagres, que “Nos oferece a imagem de uma sociedade que, em última instância, não tem contradições essenciais [...]”; e Dona Flor e seus dois maridos “[...] Onde os
elementos antagônicos são passíveis de uma suave síntese”.
Por outro lado, a tevê da ditadura desinfeta o vídeo das repressões, guerrilhas e atentados, mostrando um “País que vai pra frente”. Décio Pignatari (1984, p. 39) vai mais além: “A televisão, como qualquer outro sistema de signos, serve não apenas para registrar fatos – mas também, e fundamentalmente, para projetar fatos”. Segundo ele, a tevê “registra fatos que ainda vão ocorrer” (Ibidem, loc. cit.).

segunda-feira, 27 de outubro de 2008


História da Tv Record



Às 20 horas do dia 27 de setembro de 1953, era exibido um programa musical apresentado por Sandra Amaral e Hélio Ansaldo.
Naquela época, só a TV Tupi estava no ar. Uma grande concorrente que a RECORD enfrentou mas, que já na década seguinte, conseguiu superar. A sorte estava lançada e a história da emissora que mais contribuiu para a evolução da música popular brasileira estava começando. Equipada com o que havia de mais avançado na época, causou impacto na imprensa. O jornal "O Estado de S. Paulo" publicou uma matéria de página inteira com o título: "Entra no ar em São Paulo uma das maiores tevês do mundo". Estava provado que a ousadia dos proprietários, a família Machado de Carvalho, valia a pena.
A primeira transmissão interestadual de um jogo de futebol foi uma aventura digna dos filmes de western. Os técnicos da TV Record enfrentaram lama e contaram com a ajuda do lombo de burros para instalar microondas no topo de morros no Vale do Paraíba, com telas de galinheiro. Até esse dia, o sinal de TV nunca tinha ultrapassado um raio de sessenta quilômetros em torno das cidades que tinham estações. A primeira imagem foi do locutor esportivo Silvio Luiz passeando pelo calçadão de Ipanema. É importante lembrar que a Record era uma das emissoras da família Machado de Carvalho que encabeçava as "EMISSORAS UNIDAS"(de rádio: Rádio Record - SP; Rádio Panamericana - atual Joven Pan, SP; Rádio Bandeirantes, até 1947, quando os Saad a adquiriu; TV Record - Canal 7 de SP; TV Rio - Canal 13 do RJ). Era famosa a história do endereço da Record em São Paulo, na Av. Miruna. Porque o número do prédio é, até hoje 713, que conforme as UNIDAS, seria Record + TV Rio ( 7 +13).Nos primeiros anos, a emissora dedicou-se a programas musicais como "Grandes Espetáculos União", apresentado por Blota Jr. e Sandra Amaral, tornando-se líder de audiência em pouco tempo. Além de shows, a TV RECORD investiu em telejornais. Mas, a programação esportiva era um dos grandes trunfos da emissora.
Programas como o famoso "Mesa Redonda", criado em 1954 e apresentado por Geraldo José de Almeida e Raul Tabajara, fizeram escola na televisão. A emissora resolveu sair em campo e transmitir, ao vivo, partidas de futebol. A partir daí, tornou-se imbatível na cobertura esportiva, transmitindo quase todos os acontecimentos esportivos em São Paulo, como as lutas do Campeonato de Pugilismo. A RECORD foi a primeira emissora a transmitir, ao vivo, o Grande Prêmio de Turfe do Brasil, em 1956, direto do Jóquei Clube do Rio de Janeiro.
O teatro e o humor também tinham espaço na emissora. Programas como o "Circo do Arrelia", com o palhaço Arrelia, "Praça da Alegria", de Manoel da Nóbrega e a famosa novela "Éramos Seis", fizeram sucesso na década de 60.






Na linha de shows, grandes momentos foram marcados pela apresentação de artistas internacionais nos palcos da emissora. Participaram estrelas como Louis Armstrong, Bill Halley e seus Cometas, Nat King Cole, Sarah Vaughan, Charles Aznavour, Marlene Dietrich, entre outros. A emissora investiu em astros internacionais até 1965, quando houve a ascensão da Música Popular Brasileira. O "Show do Dia 7" foi outro grande momento na programação da emissora, apresentando musicais, desfiles de moda, entrevistas e comédia.
A emissora estreou o primeiro programa de calouros da tevê brasileira. "A Hora do Chacrinha", apresentado por Abelardo Barbosa, o Velho Guerreiro, que se tornou um dos maiores comunicadores do país. Na linha infantil, destaca-se o "Pullman Jr.", comandado por Cidinha Campos e Durval de Souza, que ficou no ar durante 16 anos.
Mas, o grande sucesso de audiência da RECORD, marco na história da televisão brasileira, aconteceu em 1965: "O Fino da Bossa", apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. A partir daí, a RECORD trouxe para o cenário musical novos talentos como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Zimbo Trio e Maria Bethânia, além dos já consagrados Agostinho dos Santos, Nara Leão, Vinicius de Moraes, Baden Powel e Maysa. Depois veio "Bossaudade", apresentado por Elizete Cardoso e Ciro Monteiro. Roberto Carlos já estava nas paradas e foi convidado para apresentar o programa "Jovem Guarda". A RECORD mantinha o primeiro lugar em audiência. Com todos esses valores musicais, a realização do II Festival da Música Popular Brasileira foi uma conseqüência. Solano Ribeiro foi convidado para dirigir os Festivais da RECORD e o resultado só podia ser um: sucesso total.
Depois vieram "Essa Noite se Improvisa", com Blota Jr. e Sônia Ribeiro, "Alianças Para o Sucesso", "Caras e Coroas", "Guerra é Guerra", "Show em Si ... Monal", "Corte Rayol Show", com Renato Corte Real e Agnaldo Rayol, "Quem Tem Medo da Verdade", "A Hora do Bolinha", "Família Trapo", "Bronco Total" e "A Buzina do Chacrinha".
A Família Trapo merece um capítulo a parte na história da RECORD. Criada em 1967 e escrita por Carlos Alberto de Nóbrega e Jô Soares foi, sem dúvida, o humorístico de maior sucesso da televisão brasileira. No elenco, Renata Fronzi, Otelo Zeloni, Cidinha Campos, Ricardo Corte Real, Sônia Ribeiro, Jô Soares e Ronald Golias. A Família Trapo liderou a audiência no horário durante três anos e fez escola.




O jornalismo também foi pioneiro na emissora. Em 1972, o jornalista Hélio Ansaldo estreou um telejornal diferente que, além de informar, debatia os temas em pauta, com a participação de especialistas. Era o "Tempo de Notícias" que depois passou a se chamar "Record em Notícias", e foi apresentado por Murillo Antunes Alves, até 1996.
No final dos anos 70, a RECORD enfrentou vários incêndios, além da concorrência que crescia com a entrada de novas emissoras no ar. Mas, mesmo assim, o Canal 7 detinha o segundo lugar em audiência em São Paulo. Foi nessa época que Sílvio Santos, empresário e comunicador, passou a fazer parte da TV RECORD.
Surge então, uma nova fase na emissora. O primeiro passo foi investir na expansão da tevê, visando a cobertura total do Estado de São Paulo. Depois, foi a vez de estrear novos programas como a reedição de "Almoço com as Estrelas", o infantil "Bozo", "Sala Especial", o humorístico "Dercy aos Domingos", com a irreverente Dercy Gonçalves e o "Perdidos na Noite", com Fausto Silva. Em 83, entra no ar o programa feminino "A Mulher dá o Recado", que passou a se chamar "Nova Mulher", apresentado pela jornalista Beth Russo. O programa "Especial Sertanejo", com Marcelo Costa, passou a fazer parte do elenco da RECORD em 1984, lançando os grandes nomes da música sertaneja. O jornalismo também ganhou nova força. Danti Matiussi assumiu a direção do departamento e colocou no ar o "Jornal da Record", comandado por Paulo Markun e Silvia Poppovic, mais tarde, apresentado por Carlos Nascimento.
Em 1991, muda o controle acionário da emissora e começa uma nova fase, passa das mãos de Silvio Santo (sócio majoritário) e Paulo Machado de Carvalho (no momento havia se tornado o sócio minoritário) para as mãos da Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo Bispo Edir Macedo. A RECORD entra com uma nova programação, mantendo o jornalismo como carro-chefe. Séries e filmes foram comprados, resgatando alguns sucessos de sua história. Nessa nova gestão, a RECORD passa a ser rede. Antes, contava apenas com São Paulo, Franca e São José do Rio Preto. Veja aqui as emissoras pertencentes a REDE RECORD. Um grande nome surge na programação da emissora, em 1993. Com um programa feminino chamado "Note e Anote", Ana Maria Braga mostrou ao telespectador que veio para ficar. De 1991 a 1995, a REDE RECORD passou por grandes mudanças, transformando-se em uma grande tevê brasileira e voltando aos tempos áureos de sua inauguração.
Em 1995, a REDE RECORD investiu pesado em equipamentos e mudou de sua antiga sede no bairro do Aeroporto, para uma nova instalação, na Barra Funda. A partir daí, a emissora passou a contar com os equipamentos mais sofisticados da televisão brasileira. No final de 1995, a emissora colocou no ar o programa "Cidade Alerta" que, desde os primeiros meses foi sucesso absoluto e emplacou como jornalístico popular. Seu sucesso foi tão grande que o programa logo elevou os índices de audiência no horário e ocupou, por várias vezes, a segunda colocação na grande São Paulo.



















1996 foi um ano de crescimento para a REDE RECORD. A emissora elevou os índices de audiência e consolidou o terceiro lugar, passando a disputar a vice-liderança. Eduardo Lafon, Diretor de Programação da Rede, firmou a programação da emissora em jornalismo, cinema, esportes e shows. Nessa época, surgiram os programas Ana Maria Braga que, ao lado do Especial Sertanejo e do Quem Sabe ... Sábado!, com Renato Barbosa, passaram a compor a linha de shows da emissora. REDE RECORD, A NOVA FORÇA DO ESPORTE tornou-se slogan da emissora, quando foram contratados profissionais da área esportiva. A partir daí, a REDE RECORD passou a cobrir os grandes eventos esportivos e deu um grande salto. A equipe da emissora foi para Atlanta e cobriu os Jogos Olímpicos de 1996.
A REDE RECORD, em 1997, continuou com as contratações e investimentos em tecnologia e expansão de rede. Boris Casoy foi um dos contratados, que reforçou o jornalismo, impondo credibilidade e imparcialidade. Carlos Massa, o Ratinho, veio para a RECORD no segundo semestre de 1997 e foi considerado o grande fenômeno de comunicação do ano. Com isso, a REDE RECORD reforçou seu núcleo de profissionais. Outro grande destaque, ainda em 97, foi a implatação do núcleo de teledramaturgia que produziu minisséries e uma novela, "Canoa do Bagre", com grande sucesso. No segundo semestre, uma parceria com a VTM Produções foi criada e, com isso, mais seis minisséries foram ao ar, além de uma superprodução intitulada "Desafio de Elias", que foi vendida para sete países. São eles: México, Chile, Panamá, Equador, Venezuela, Colômbia e Porto Rico. A partir desse período, importantes nomes da teledramaturgia brasileira voltaram a participar das produções da emissora. Entre eles, Gianfrancesco Guarnieri, Othon Bastos, Lolita Rodrigues, Márcia Real e Sérgio Viotti. Para atender todo o crescimento da rede, a frota de veículos foi trocada e todos os departamentos foram informatizados.
REDE RECORD TODO MUNDO VÊ marcou o ano de 98. Com este slogan e uma programação diversificada, a emissora elevou os índices de audiência, aumentando a média mensal e confirmou seu crescimento. Novamente em parceria com a VTM, foi produzida a novela Estrela de Fogo, que trouxe grandes nomes como Fúlvio Stefanini e Cristina Prochaska de volta às telas. Filmes premiadíssimos foram comprados reforçando o acervo de longa-metragens da REDE RECORD. Títulos como "O Paciente Inglês", "A Poderosa Afrodite", "O Outro Lado da Nobreza", "O Quinto Elemento" e "Breakdown". As séries mais premiadas da tevê mundial também foram compradas. Entre elas, estão os sucessos mundiais "Arquivo X" (The X-Files), "Millennium" (Millennium) e "Edição de Amanhã" (Early Edition).
Também na área técnica, a REDE RECORD superou as expectativas e investiu no que há de melhor e mais moderno. Novos estúdios, transmissores com maior potência, unidades móveis, "Sillicon Graphics", equipamentos digitais com câmeras de última geração, som e iluminação para uma imagem perfeita no ar. A potência do transmissor passou de 30 KW para 60 KW. A antena e o transmissor estão instalados no edifício Grande Avenida, na Avenida Paulista. O helicóptero Águia Dourada da REDE RECORD, um dos mais modernos do mundo, começou a sobrevoar a cidade de São Paulo.
A expansão da rede não pára. Hoje, a REDE RECORD conta com 63 emissoras entre próprias e afiliadas e centenas de retransmissoras espalhadas por todo território nacional. A Copa do Mundo 98 foi outro importante passo da emissora em coberturas esportivas. Mesmo com pouco tempo para preparar as transmissões e uma equipe reduzida, a REDE RECORD conseguiu fazer uma cobertura de primeira, mostrando tudo o que aconteceu na França, no último mundial do século. Fala Brasil, uma revista jornalística diária, Repórter Record com Goulart de Andrade e Disque Record, com Gilberto Barros também estrearam neste ano. Outro grande lançamento de 1998 foi o infantil Vila Esperança que resgatou a fase de programas infantis inteligentes, instrutivos e divertidos, que há muito tempo não se via na tevê. Na mesma semana, Gilberto Barros estreou o LEÃO LIVRE, um programa feito para o povo, em horário nobre.


Em outubro de 1998, a REDE RECORD adquiriu sua primeira unidade móvel totalmente digital: um caminhão com quatro câmeras, um switcher e 3 vts com slow-motion. A unidade conta também com dois geradores próprios de energia. Mas, os investimentos não param. A emissora também adquiriu um carro de UP link que proporciona o fechamento de links direto do satélite, de qualquer lugar, através de uma parabólica colocada sobre o veículo, sem a necessidade de conexão com a Embratel ou outra empresa de telecomunicações. Para dar continuidade ao projeto de crescimento, a REDE RECORD investe em contratações. O jovem ganhou espaço na emissora com o Galera, apresentado por Alexandre Frota e Juliana Garavatti. Para reforçar a afirmação: Lugar de Criança é na Record, o gênero infantil ganhou força com a contratação da apresentadora Eliana. Na linha de shows, um nome de peso passou a compor o "cast" da emissora: Raul Gil. Foi produzida a segunda fase da novela ESTRELA DE FOGO, a novela que virou sucesso na reimplantação da teledramaturgia da emissora. Em novembro de 1998, José Paulo Vallone assumiu a Direção de Programação na emissora, permanecendo no cargo até 22 de Setembro de 1999. O executivo implantou novos programas, de gêneros distintos, na REDE RECORD.1999 - Um ano marcado de novidades. Quando a nova direção propôs investimentos e mudanças, ela não decepcionou. Apostou em novas contratações e novos programas, mudou o perfil da grade de programação, criando um rosto novo para a emissora.Para preencher o espaço da teledramaturgia deixado pela produção da novela Estrela de Fogo - 2ª Fase, entrou LOUCA PAIXÃO. Um remake de "2-5499, Ocupado", primeira novela diária da televisão brasileira, exibido em 1963 pela TV Excelsior. LOUCA PAIXÃO, que atingiu a excelente média de 12 pontos no ibope, contou com um elenco de peso, com nomes como os de Maurício Mattar e Karina Barum. Reforçando a linha de shows na tela da RECORD, o público foi presenteado com musicais como o AMIGOS E SUCESSOS, programa que reuniu música e emoção na medida certa, com apresentadores variados.Empenhado nestas mudanças, o diretor de programação José Paulo Vallone, não parou por aí. A idéia de criar um novo programa, com um novo formato se realizou: SEM LIMITES PRA SONHAR, que também só poderia ser apresentado pelo carismático FÁBIO JR. Com exibição semanal, o programa conta com vários quadros e com um cenário totalmente diferente e sofisticado. Para dar ainda mais um tom de harmonia, a programação apostou no humor. ESCOLINHA DO BARULHO surge na tela da Record com uma turma do barulho. Mas estes alunos não estão muito interessados em estudar, as palavras de ordem são muita diversão e alegria.Os bastidores da REDE RECORD, já estão dando o que falar. ZAPPING está à frente de todos os acontecimentos. Apresentado por Virgínia Nowicki, o programa mostra a realidade por trás das câmeras, erros de gravação, detalhes de filmagens, entrevistas com personalidades. Nada escapará das lentes de ZAPPING.Até o final do milênio, os maiores sucessos de bilheteria com astros internacionais e aclamados diretores passarão pela tela da RECORD. A emissora comprou um pacote de mais de quarenta longa-metragens que foram exibidos em sessões semanais. Ação, Suspense, Drama, Romance, Comédia, Terror e muita Aventura. O gênero infantil não fica atrás. Para alegrar a criançada, a RECORD adquiriu novos desenhos. Um deles é o famoso Laboratório de Dexter, A Vaca e o Frango, O Recruta Zero e o polêmico POKÉMON. Nas tardes de domingo, mais uma opção para o telespectador. ELIANA NO PARQUE, com um público diversificado - até então restrito ao infantil - atrai não só a participação dos jovens, como também de toda a família. Um programa recheado de atividades e gincanas, envolvendo disputas culturais e esportivas entre escolas. Completando a grade do domingo, foi produzido o FALA BRASIL - EDIÇÃO DE DOMINGO. No ar até julho, o jornalístico era apresentado por José Luiz Datena, Adriana de Castro e Rosana Hermann.O Departamento de Jornalismo ganha um novo diretor, José Luiz Gonzaga Mineiro, que vem com prioridades: remodelar o departamento, qualificar as notícias e implantar uma cobertura internacional com correspondentes. Um compromisso com o telespectador.O programa de maior destaque da tevê brasileira e que mais se identifica com a mulher de hoje, ganha um novo rosto. À frente do NOTE ANOTE, Cátia Fonseca. Contrariando inevitáveis comparações com sua antecessora, Cátia imprimiu o seu próprio estilo. Seu jeito descontraído, doce e discreto, aos poucos conquistou o telespectador, mantendo a audiência do programa.Em setembro estreou o TV GENTE, programa que também possui um quadro diário no Note e Anote. Apresentado por Nelson Rubens, o dominical mostra as fofocas e os bastidores das badalações do mundo artístico.Já em outubro, o jornalismo da RECORD recebeu o reforço do SÃO PAULO NOTÍCIA. Apresentado por Eleonora Paschoal e Miguel Dias, o noticiário era exibido das 13h às 14h.Em 1999 também estreou QUARTA TOTAL, uma produção alegre e descontraída, que reúne toda a família numa só torcida e com apresentação de Gilberto Barros, sempre às quartas-feirasEm setembro de 1999, a Direção de Programação da REDE RECORD ganha um novo profissional: Marcus Aragão. Ex-assessor da presidência da emissora, o executivo tem em seu currículo 4 anos de RECORD, tendo tramitado por quase todos os setores da Empresa. Com a proximidade do final do ano, é dele a responsabilidade de produzir e programar os especiais que irão comemorar as festas, bem como a formatação da grade de programação do ano 2000. A REDE RECORD entrou com o pé direito no ano 2000. Em parceria com a BBC de Londres, a emissora transmitiu o "2000 Hoje", programa que mostrou as comemorações da virada do ano, realizadas nos quatro cantos da Terra. Uma transmissão que deu bastante prestígio e visibilidade a Record, pelo eneditismo e qualidade do projeto.Formatada por Marcus Aragão, diretor de programação da emissora, o canal estreou várias produções e até lançou novos talentos. Entre eles ED BANANA, apresentado por Edilson Oliveira, que até então só atuava como ajudante de palco de Eliana com o personagem Chiquinho. A produção, descontraída e tropical, ficou no ar até abril do mesmo ano para, posteriormente, ser reformulado. O RISOS E CASSETADAS, dentro da linha do humor, mesclou "pegadinhas" com "videocassetadas" e as imitações de Sandro Almeida, um humorista paraense descoberto no Programa Fábio Jr.Gilberto Barros ganha seu segundo programa na Record: o DOMINGO SHOW, um divertido game musical, que tem como participantes atores, cantores, modelos e esportistas. Ainda na linha de game, a emissora lançou o Top TV, usando como mote os 50 anos da televisão brasileira nas perguntas formuladas.A turminha teen ganhou um moderno e diferente programa: o PROGRAMA DA HORA, apresentado pela menina cantora Thaís Pina. E, dentro da programação infantil, o ELIANA & ALEGRIA teve sua audiência aumentada em 100%, sendo o programa que mais cresceu nos últimos 12 meses. A produção, apresentada pela charmosa e bela Eliana, ganhou novos desenhos como POKÉMON - um grande sucesso entre as crianças, tornando-se líder de audiência -, bem como ULTRAMAN TIGA e DONKEY KONG. Na linha desenho animado ainda foram lançados o FUTURAMA e o BEAST WARS. Novos anos de seriados consagrados da Record também entraram na programação 2000, tais quais LASSIE e TERRA - CONFLITO FINAL. O lendário RIN-TIN-TIN, original colorizado, foi uma das grandes estréias no gênero seriado, assim como O CORVO.No âmbito do esporte, a emissora, em parceria com a Octagon Koch Tavares, estreou o ESPORTE RECORD, apresentado por Adriana Colin e com entrevistas de Wanderley Nogueira. Na mesma parceria, a Record transmitiu os maiores mundiais de tênis, incluindo o de Roland Garros que deu o título de número 1 do mundo ao brasileiro Gustavo Kuerten, o Guga. A partida final deu o primeiro lugar a Record, com 13 pontos de média e pico de 25.O ano também foi bastante marcado pela reimplantação da teledramaturgia da emissora, que até fevereiro de 2000 co-produzia novelas. No dia 8 de maio estreava MARCAS DA PAIXÃO, às 20h, escrita por Solange Castro Neves e dirigida por Atílio Riccó, tendo Irene Ravache, Claudio Cavalcanti, Nathália Thimberg e tantos outros medalhões das telenovelas brasileiras. Já vislumbrando um segundo horário para suas próprias produções no gênero, foi lançada a mexicana OLHAR DE MULHER no horário das 21h.No segundo semestre de 2000, estreou na RECORD a novela VIDAS CRUZADAS, a primeira novela moderna que se passa na Bahia e não possui nenhum sotaque se quer; isto, ao mesmo em que enfoca os encontros pela Internet como um costume normal da juventude brasileira.O jornalismo da RECORD, dirigido por Luiz Gonzaga Mineiro, sofreu algumas reformas: o JORNAL DA RECORD - 2ª EDIÇÃO passou a ser apresentado por Salette Lemos e o SÃO PAULO NOTÍCIA ganhou o reforço de Rodolfo Gamberini na apresentação com Simone Queiroz.Hoje a Rede RECORD possui em seu grupo da REDE FAMÍLIA, totalmente voltada para a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), e a REDE MULHER, que em 5 de março de 2001 mudou-se para a primeira sede da Record, na Av. Miruna, 713, reformando o prédio e alojando os seus novc.


Fonte: Site oficial da Rede Record. Complementação feita pelas equipes do Canal 1 / Telecentro e parte biográfica do site da Rádio Joven Pan. Imagens dos Departamento de Divulgação / Record e outros também pesquisados para o Acervo do Canal 1; e Arquivos de Imagem do Centro Cultural São Paulo. estações.

A HISTÓRIA DA MANCHETE


A Manchete começou a circular em abril de 1952, um ano depois de Adolpho Bloch ter apresentado o projeto de criação de uma revista a Henrique Pongetti e Raimundo Magalhães Júnior, amigos intelectuais, e a Pedro Bloch, primo e médico foniatra. Imigrante russo naturalizado brasileiro que aqui chegou com a família em 1922, Adolpho Bloch apostava que havia lugar no mercado para mais uma revista de circulação nacional, ou seja, que poderia concorrer com O Cruzeiro. Com base na experiência adquirida nas tipografias da família — na antiga URSS, em Jitomir e Kiev, e no Rio de Janeiro — alicerçava-se nas possibilidades de introduzir inovações editoriais na publicação e aprimoramentos técnicos no equipamento gráfico para vencer o desafio de concorrer com O Cruzeiro. O investimento inicial foi pequeno e o custo de produção era baixo: as máquinas da tipografia da família, ficando ociosas três dias na semana, podiam imprimir edições semanais da Manchete de 200 mil exemplares. Ainda assim, a revista custava o mesmo preço da principal concorrente.
A lucratividade da empresa era surpreendente. Em poucos anos, a Manchete ocupava um prédio próprio na Rua Frei Caneca, no bairro da Lapa, que fica próximo do centro e onde estavam instalados vários jornais e a revista O Cruzeiro. Foram adquiridas máquinas para imprimir 800 mil exemplares semanais e um terreno no subúrbio de Parada de Lucas, onde se construiu o parque gráfico. Inversamente à estratégia de O Cruzeiro de alardear tiragens inacreditáveis, a Manchete não revelava essa informação. A estimativa só pôde ser feita com base no relato de Adolpho Bloch sobre a capacidade das rotativas8.
O investimento em equipamentos e instalações foi simultâneo à reformulação da política editorial de 1956. A mudança abrangeu todos os setores da publicação, transformando a paginação e atualizando o texto, com o objetivo de fornecer ao leitor elementos necessários à compreensão dos acontecimentos. A equipe de redação foi reforçada. Do quadro de jornalistas, redatores e colaboradores — selecionados entre pessoas de destaque no meio intelectual — fizeram parte Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Joel Silveira, Orígenes Lessa, Raimundo Magalhães Júnior, Guilherme Figueiredo, Otto Maria Carpeaux, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Antônio Maria, Nelson Rodrigues, Marques Rebello, Paulo Mendes Campos, Lígia Fagundes Telles, Antônio Callado, Sérgio Porto, Ciro dos Anjos, Olegário Mariano, Jânio de Freitas e muitos outros. Jean Manzon, que trabalhou para a Paris Match e O Cruzeiro, foi o principal fotógrafo. Ao seu lado, estiveram Darwin Brandão, Gil Pinheiro, Gervásio Baptista, Fúlvio Roiter, Jader Neves etc.
O primeiro número da Manchete estampava na capa uma bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e alardeava como exclusividades "Uma grande reportagem de Jean Manzon" e "A verdadeira vida amorosa de Ingrid Bergman". O fundo escuro, contrastando com o dourado de uma carruagem que servia de cenário e com as chamadas emolduradas em vermelho, desagradou ao próprio Bloch9. A revista era pouco atraente: papel de qualidade inferior, diagramação ruim, e a matéria de capa era a única colorida.
Por volta de 1956, com a aquisição de novas impressoras, o padrão gráfico ganhou qualidade. Nahum Sirotsky, que sucedeu a Henrique Pongetti no cargo de editor geral, foi o responsável pelas mudanças. O sucesso ele creditou ao grupo formado por Alberto Dines, Darwin Brandão, Newton Carlos, desenhistas, técnicos e gerentes. O apogeu da Manchete coincidiu com o declínio de O Cruzeiro10 e com a transferência de dezessete jornalistas deste periódico para a Manchete, em 1958, por divergirem da postura ética do proprietário.
Politicamente, a revista se identificava com a corrente desenvolvimentista antiliberal e industrializante11 do pensamento econômico. Adolpho Bloch era amigo e dedicava irrestrito apoio ao governo Juscelino Kubitschek, desde a campanha eleitoral. É de sua autoria o slogan "50 anos em 5", muito embora a sua revista fizesse críticas à política de saúde e educação. Antes dele, João Alberto Lins de Barros foi outro político que teve espaço na publicação. Já O Cruzeiro pendia sempre para posições ideológicas conservadoras — próximas da corrente do pensamento denominada neoliberal —, alimentando verdadeira aversão aos monopólios de Estado, a pretexto de salvaguardar os interesses dos capitais privados nacionais e estrangeiros. Desse modo, Getúlio Vargas era execrado, bem como João Alberto, seu antigo colaborador e presidente do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.

A CIÊNCIA EM MANCHETE
Na Manchete não havia uma seção dedicada à ciência — como existia para política, comportamento, cinema, teatro, culinária e outras tantas assinadas — nem tampouco era especializada no assunto. Ciência e tecnologia foram temas de fotorreportagens exclusivas, bem como apareciam em pequenas notas ou nas seções consagradas: "O Brasil em Manchete", "O mundo em Manchete", "O leitor em Manchete", "Notícias que valem Manchete", "Manchetinhas" e "Posto de Escuta". Ainda que nessas seções predominassem notícias sobre concursos e viagens de misses, catástrofes, política e economia, astros e estrelas do cinema e do teatro, há registros da passagem de algum cientista famoso pelo Brasil e de acontecimentos relevantes no campo da ciência. As notícias referiam-se mais a acontecimentos científicos que tiveram lugar em países estrangeiros (58%) do que à incipiente produção científica do país (42%). A disparidade não parece ser tão grande, porque há muitas matérias sobre aplicações da ciência na área da saúde pública.
Os editoriais do período 1952-62 não faziam referência à ciência. O editorial publicado em 5 de fevereiro de 195512, assinado por Henrique Pongetti e intitulado "Ratos no ciclotron" — o desfalque no Projeto dos Sincrociclotrons13 —, foi uma exceção. Porém, a tônica não era o problema da corrupção, o "caso Difini", mas a ameaça que o físico brasileiro Cesar Lattes teria feito de encerrar a sua carreira científica caso o culpado não fosse punido. Apelos emocionados, enumerando as dificuldades financeiras enfrentadas pelo CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e comparando as carreiras científicas de Lattes e Enrico Fermi caracterizam a opinião da revista.
Num estilo próprio, a revista apropriou-se da linguagem e do discurso do fotojornalismo. As fotografias ocupavam em média 70% das páginas nas fotorreportagens, mas chegavam a ocupar páginas inteiras. Os textos e legendas preenchiam as lacunas entre títulos e subtítulos, fotografias, gráficos, desenhos e quadros que eram inseridos para facilitar a compreensão dos leitores. No estilo literário da época e com um português primoroso, a linguagem dos textos era quase poética e se inspirava na fotografia principal da matéria. Sem perder de vista o caráter informativo e quase didático, as matérias traziam informações sobre a confirmação de fatos científicos e sobre novos artefatos e processos tecnológicos, tais como: medicamentos, vacinas e tratamentos de doenças; biografia de cientistas; atividades de pesquisadores de disciplinas emergentes; avanços tecnocientíficos; inauguração de institutos, laboratórios e instrumentos de pesquisa; congressos científicos e questões de saúde pública. Neste caso, há informações sobre a controvérsia de tratamentos e confronto de opiniões, mas não há nada à respeito das controvérsias de cientistas em seu campo de ação. Estas raramente ultrapassam os domínios exclusivos da ciência, permanecendo na esfera de atuação do laboratório, onde a ciência tem autonomia.
A imagem fotográfica é uma forma particular de comunicação: imagens e texto se complementavam. Ao flagrar acontecimentos, selecionar momentos singulares e registrar o cotidiano, ela provoca de imediato algum tipo de emoção no leitor, podendo ser captada como realidade. A imagem fotográfica encurtava os caminhos da leitura e facilitava a apreensão de informações, haja vista o impacto causado pelas primeiras fotografias de guerra publicadas na imprensa, no início do século XX, e a repercussão das imagens entre civis que nunca haviam estado em um front14. À primeira vista, o discurso de apropriação estética empresta verossimilhança à informação, ampliando a credibilidade do tema abordado e reforçando a confiabilidade no veículo de comunicação. Folheando um exemplar da Manchete, mesmo os analfabetos teriam sido capazes de apreender informações sobre o Sputnik, a criação da Petrobras, a bomba atômica, a vitória no tênis de Maria Esther Bueno, a morte de Getúlio Vargas, etc. Poderiam ainda conferir o luxo de fantasias do carnaval do Rio de Janeiro e deliciar-se com fotos de Sacha Distel e Brigitte Bardot.
A análise dos textos de divulgação científica leva em consideração, além da política editorial, a ética, a fidedignidade das informações, as opções de linguagem e os cuidados na transposição do discurso científico para o discurso jornalístico15. Afora o jornalismo científico não ser uma especialidade nos anos 50, cientistas e jornalistas brasileiros pertenciam ao mesmo grupo social, freqüentando os mesmos ambientes. Mesclavam-se no meio intelectual e na imprensa o cientista estava no mesmo patamar de outras personalidades públicas (políticos, bispos, rainhas, intelectuais, atrizes e jogadores de futebol). Cientistas brasileiros, cujas contribuições passariam à história da ciência, eram tão poucos que não ficavam no anonimato. Não eram, como hoje, integrantes ou coordenadores de grupos de pesquisa experimental e co-autores de trabalhos assinados com dezenas de colegas. Eles próprios, como recorda José Leite Lopes, interferiam na construção da imagem da ciência, visando estreitar o relacionamento cientista-jornalista-público e abreviar o tempo da comunicação. Contrastando com a tendência atual, contribuíam o fato das matérias se centrarem na personalidade e a maior mobilização política dos cientistas.
Cientistas foram capa da Manchete e assunto de chamadas — frases curtas, de efeito e sem rigor na pontuação sobrepostas à fotografia —, o que revelava prestígio na sociedade e, também, que a revista valorizava a atividade científica. Sobremaneira, as imagens de capa mais recorrentes foram as misses, atrizes, vedetes, bailarinas e modelos. Em média, a cada seis capas destacando a mulher, um político era o personagem eleito. Dentre os outros temas contemplados na capa estão a cultura popular (Rei Momo e Papai Noel), moda e crianças.
Na edição da semana de 31 de maio de 1952, a capa era uma foto do Instituto de Manguinhos com a chamada "Manguinhos não é uma torre de marfim." Na semana seguinte, era um cientista ao microscópio e a frase: "Um milhão de cruzeiros por um mosquito." No primeiro número, havia duas matérias sobre ciência. Uma, tratava do dia-a-dia dos cientistas de Manguinhos: condições de trabalho; infra-estrutura; pesquisas em andamento; produção de vacinas; registrava que os cientistas recebiam salários de Cr$3.700,00, e trazia ainda fotografias de Walter Oswaldo Cruz, Olympio da Fonseca, Cassio Miranda, Nogueira Penido, Paulo Muniz e Miguel Ozório. A outra matéria, em cores, apresentava o entomologista Ferreira d’Almeida — dono de coleção de mais de vinte mil borboletas — que, depois de ser carteiro, tornara-se "naturalista auxiliar" do Museu Nacional. Já no número seguinte, em junho, a reportagem de capa tratava da malária — do mosquito transmissor, regiões mais afetadas, número de mortes —, enfatizando a carreira do sanitarista Manuel Ferreira no Serviço Especial de Saúde Pública e na Faculdade Fluminense de Medicina. Publicou-se, ainda no mesmo número, uma reportagem intitulada "Vinte parlamentares médicos à cabeceira do Brasil", com a fotografia 3 x 4 e a identificação do partido político de cada médico que passou à política. Em junho, a revista ainda tratou de questões decorrentes da aplicação da física, da bomba atômica16.
Era evidente o empenho da Manchete na divulgação da ciência, no ano em que começou a circular. Em dois números do mês de julho foram publicadas reportagens sobre ciência ou aplicações da ciência: "A medicina progride. Novas aplicações da eletroterapia"; e "Físicos discutem física", com fotografias de Álvaro Alberto, Arthur Moses, José Leite Lopes e outros no Simpósio sobre Novas Técnicas da Física. O mesmo aconteceu em agosto de 1952 nas reportagens: "As esposas falam de seus maridos famosos" — Martha Lattes ressaltou os hobbies de Cesar Lattes; e "A luta contra a dor. Agora temos a hipo-anestesia. Não se sente e não se vê a broca"17.
O resultado da classificação das reportagens e notas por área do conhecimento confirma a predominância das matérias sobre saúde e biologia, embora tenham sido apresentadas em separado (Quadro 1). Certamente, a prática médica é o assunto de maior apelo no cotidiano das pessoas. A engenharia, por causa das matérias sobre satélites e corrida espacial, aparece em segundo lugar. Sobre a física — então a ciência de fronteira — as matérias estavam vinculadas ao contexto da Guerra Fria e ao uso pacífico da "energia dos átomos". As fotografias eram enormes e sempre acompanhadas de legendas explicativas.
No início da década de 1950, o desenvolvimento das pesquisas sobre a poliomielite e o aumento do número de crianças contagiadas se reflete nos resultados do Quadro 1, nas colunas saúde e biologia. Não obstante a interferência de fatores relacionados à produção científica e a freqüência dos assuntos abordados não apresentar mudanças significativas, no período da reformulação editorial da Manchete (1956) o foco se transfere dos cientistas de maior projeção social para a divulgação das grandes pesquisas científicas, a big science.
À medida que o tempo passava e aumentava a experiências dos editores, Manchete se tornava mais superficial para agradar a mais leitores. Quando se tratava de médicos, valorizava-se o grande especialista, as viagens dos mesmos para congressos eram noticiadas no "Posto de Escuta", e os diretores de hospitais eram citados nominalmente. Aparentemente, havia matéria paga sob o véu de história de instituições médicas ou troca de favores. Neuroses, enfarto e câncer eram consideradas "as três pragas do século"18.
Dois assuntos destacados pela revista tinham grande repercussão na época: a utilização da energia nuclear — devido às discussões sobre o seu uso pacífico, a bomba atômica e a exploração das reservas nacionais de minerais radioativos —, e os programas espaciais soviéticos e americanos. A partir de 1958, foi grande o número de leitores que escreveram para a revista a respeito desses assuntos. O lançamento do Sputnik, em outubro de 1957, incitou sobremaneira o imaginário popular já povoado pela possibilidade de vida extraterrestre, discos-voadores e por heróis do espaço. O russo Yuri Gagárin, o primeiro cosmonauta, protagonizou fotorreportagens de várias páginas da revista, principalmente em sua passagem pelo Brasil. Seu nome e sua imagem correram o mundo e até hoje é citado pela mídia. Virou marca de cigarro na URSS e, no Brasil, inspirou a mãe de Yuri Gagárin da Silva19.
Em "O leitor em Manchete" — seção na qual a revista mantinha um canal aberto com o público leitor — uma carta com o título "Astronáutica russa" é elucidativa:
Algo está destoando na sua revista: o modo como vêm sendo divulgadas as façanhas científicas da URSS e o total desprezo pelos feitos dos EUA, nossos aliados naturais. Enquanto os americanos lançam 28 satélites de comprovado valor científico, cujos resultados são postos à disposição do mundo, a Manchete tem cuidado de publicar, exclusivamente, os pensamentos de cachorros e ratos (n.442) ou as palavras de um futuro astronauta russo (n.443).
Em resposta, assinalou o editor: "Se o leitor verificar mais atentamente, poderá constatar que as reportagens referentes às conquistas espaciais por nós publicadas seguem um estrito critério de imparcialidade." 20
Nos países industrializados da Europa e da América do Norte, a tecnologia desenvolvida para fins bélicos — energia nuclear, radar, mísseis — tanto fortalecia o poder político e militar como era usada para acelerar o ritmo do crescimento da economia. Centralizadas, políticas científicas e tecnológicas passaram a ser formuladas, pretendendo a solução de múltiplos problemas dessas economias. Contudo, a disputa político-ideológica levava os governos soviético e americano a investir maciçamente na publicidade em torno dos avanços científicos em veículos de comunicação de massa de vários países. Manchete acompanhava diretamente esse processo por meio de contrato com as agências internacionais de notícia. Leon Eliachar, de forma satírica, remete ao tema:
O Sputnik veio provar uma coisa: que em matéria de satélites ninguém pode competir com a Rússia. O Vanguard veio provar outra coisa: que em matéria de espaço tanto faz ao americano conquistar a ionosfera como o espaço de um jornal — ambos dão publicidade. O lançamento do Sputnik veio evidenciar que em matéria de astronáutica a ciência russa está mais adiantada do que a americana, o que evidentemente os fará chegar primeiro à Lua. Mas eu não ficarei surpreso se os russos chegarem à Lua e lá encontrarem espalhados cartazes por todos os lados: Sejam bem-vindos. Bebam Coca-cola. 21
Já no Brasil a produção de conhecimentos científicos e de energia nuclear eram tidos como as soluções para superar o atraso crônico da nação e como forma de ostentar a grandeza cultural e o poder político-militar. Aqui, assim como lá, Exército e Marinha foram os primeiros a estreitar os vínculos com os produtores de ciência. Associavam a industrialização e os recursos naturais com política, emancipação econômica e soberania. A despeito da conseqüente emergência das armas nucleares ter quebrado o vínculo entre poder militar e poder econômico, as preocupações do Terceiro Mundo estavam em outro estágio22.
A aliança entre ciência e militares foi a principal responsável pelo aumento da produção científica. Do mesmo modo que não se pode inferir que os militares defendiam a utilização da energia nuclear na produção de eletricidade como mera estratégia técnica, é ingênuo supor que não tivessem interesse na tecnologia dos armamentos nucleares. Já os físicos — Cesar Lattes, Jayme Tiomno, Hugo Camerini, José Leite Lopes e Marcelo Damy, personalidades fotografadas pela Manchete — eram de uma geração em que a guerra condicionou as opções sociais, políticas e filosóficas. Queriam fazer ciência no país.
A publicidade em torno de Cesar Lattes — o físico mais citado — explicita a predisposição dos veículos de informação em selecionar arquétipos capazes de oferecer uma representação de suas áreas de atuação. Como os mitos do cinema e do esporte, a seleção dos eleitos na imprensa não é desinteressada mas depende das relações que se estabelecem entre os campos sociais. No caso da ciência, entretanto, parece não funcionar da mesma forma, pois o próprio Lattes procurou — apesar de tê-la utilizado — desfazer sua imagem mítica quando não mais lhe interessava em O Cruzeiro.
Os critérios utilizados para eleger as dez mais elegantes do ano ou para escolher a mais bela atriz de cinema eram diferentes dos parâmetros empregados pela imprensa para identificar os cientistas mais produtivos. Na reportagem "61 o ano louco", Jaime Tiomno é o destaque do meio científico, pela contribuição à física teórica. Como o seu trabalho sobre o méson K foi considerado relevante pelos seus pares, a Manchete explicou aos leitores: "No campo da ciência, o professor Jaime Tiomno foi o Colombo do méson K, e deu mais um título para o Brasil na empolgante aventura da era atômica. Outro cientista com destacada atuação este ano: Marcelo Damy". Assim, imprimindo a marca do sensacionalismo na divulgação da ciência, a revista ainda destacou que "Na ciência, nos esportes e na música popular surgiram caras novas.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008


A Era digital



Em pouco menos de 50 anos, os computadores deixaram de ser aparato da indústria bélica, sempre em busca de armas e tecnologias de espionagem à prova de inimigos, para se tornarem objeto de decoração nas residências, onde servem de instrumento de pesquisa e entretenimento para toda a família. Essa revolução silenciosa alterou a dinâmica da sociedade e promete grandes mudanças na política, nas artes, na economia, no relacionamento entre as pessoas. Ao criar uma forma de negociação entre empresas e consumidores sem a figura do intermediário, a Internet trouxe o combustível necessário para a explosão do comércio online. Mesmo quem não tem computador e nunca navegou pela Internet participa da sociedade digital.
ReproduçãoOs circuitos eletrônicos são quase onipresentes e os exemplos não faltam. Uma casa típica de classe média sem computador tem cerca de 40 processadores, ou chips, espalhados pelo microondas, videogame, telefone e outros eletrodomésticos. Quando há um PC, o número sobe para 50 chips. Quem usa cartão de banco, faz débito automático ou saque em caixa eletrônico também depende de informações digitais. O mesmo vale para quem acumula milhas aéreas, controla as vacinas infantis e acumula pontos por encher o tanque do carro nos cartões de fidelidade com chip embutido, os chamados smart cards. Enquanto na revolução industrial o automóvel era o maior ícone das linhas de montagem, o Boeing 777 é duplamente um símbolo da velocidade supersônica da era da informação. Totalmente projetado e testado em computadores, o novo jato da Boeing fez seu vôo inaugural nos ares, sem simulações reais, e seu funcionamento é monitorado por 1.300 processadores, dez vezes mais do que os primeiros modelos 707 da companhia a sair de fábrica com controles digitais, nos anos 60.
Darcio de Jesus
Só porque o mundo agora está online foi possível que descendentes das vítimas do Holocausto consultassem, de qualquer lugar do mundo, as contas bancárias de seus familiares confiscadas pelos bancos suíços. Bastava digitar o nome na página da organização Simon Wiesenthal para localizar o dinheiro pilhado pelos nazistas. No mês passado, o Ministério da Cultura da Alemanha colocou à mostra, pela Internet, as 13 mil pinturas, esculturas e livros da coleção Linzer, que reúne obras de arte surrupiadas de famílias judaicas durante a Segunda Guerra Mundial. Outro indicador da era da informação foi a divulgação na Web do relatório do advogado americano Kenneth Starr, com detalhes picantes do caso extraconjugal entre Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky. Os servidores onde estava a íntegra do Relatório Starr ficaram atolados de curiosos durante dias, em setembro do ano passado. Todos queriam ler os detalhes do depoimento da estagiária, que revelou como Clinton usou charutos numa relação sexual em plena Casa Branca. Apesar de tanto furor em torno da Internet, a riqueza do universo digital não se resume apenas à rede de computadores. Fabricantes de chips e programas pesquisam formas de interligar os aparelhos eletrônicos que nos rodeiam. Máquina de lavar roupa e microondas com acesso à rede, geladeira inteligente, agendas eletrônicas que comunicam-se sem fio com o PC. Tudo isso existe em protótipo ou funcionando. Mas está distante o dia em que, ainda no escritório, ligaremos o forno da cozinha para chegar em casa com o jantar quentinho.
A velocidade das mudanças é tão avassaladora que três das mais importantes tecnologias do momento não existiam há 20 anos: o telefone celular, a Internet e o CD. Hoje os avanços estão em todos os lados: na medicina, na economia, nas artes, no dia-a-dia. No Brasil, as pesquisas apontam que assiste-se menos à tevê e muitos sacrificam horas de sono para trocar e-mails, navegar pela rede ou entrar nas salas de bate-papo online. O horário de pico de audiência na Internet começa ao anoitecer e vai até o início da madrugada, quando as tarifas telefônicas são mais baratas. Outro forte indicador de que algo mudou na sociedade brasileira é a adesão em massa à entrega do Imposto de Renda online. A Secretaria da Receita Federal incentivou a entrega de declarações via computador. Oferecia como recompensa um lugar privilegiado na fila para receber a restituição do imposto, mas o volume de entrega de declarações eletrônicas foi tão grande que surpreendeu o próprio Leão.
A quarta edição da Pesquisa Internet Brasil feita em nove regiões metropolitanas pelo instituto Ibope e pelo site de buscas Cadê? indica que, de dezembro do ano passado até junho deste, 750 mil brasileiros entraram pela primeira vez na rede. Na única pesquisa sistemática realizada sobre o mercado nacional estima-se que existam ao menos 3,3 milhões de brasileiros plugados à rede, o que nos coloca entre os países mais conectados do planeta, embora esse índice represente menos de 5% dos brasileiros. O País ainda engatinha na era digital. No mundo inteiro, 97 milhões de pessoas acessam a Web usando o computador de casa, conforme revela estudo da americana Ovum Ltd. Esse número deve saltar para 240 milhões em 2004. Da mesma forma, as empresas e os executivos plugados que este ano serão 53 milhões, daqui a cinco anos devem somar 180 milhões, segundo a pesquisa. Com preço médio de R$ 35 ao mês, o acesso à rede ainda está longe de ser acessível às classes D e E. Integrantes das classes A e B representam a imensa maioria dos usuários (84%), enquanto 13% integram a classe C, outra vez de acordo com a enquete do Ibope/Cadê?
Leo Caldas/Ag. Lumiar
Velocidade da luz – Com sua habilidade em percorrer milhares de quilômetros na velocidade da luz, o correio eletrônico aproximou pessoas, eliminou fronteiras e aboliu o fuso horário. Fala-se com alguém em Salvador ou em Paris no mesmo instante, como se todos estivessem presentes numa única sala. "Tudo acontece em tempo real, no aqui e no agora, e conversa-se com um colega no Japão com mais facilidade do que se ele estivesse no andar de baixo", compara Silvio Meira, professor titular do Departamento de Informática da Universidade Federal de Pernambuco. Há quase dois anos suas fontes de informação, discussão e trabalho estão restritas à rede e aos livros. "A era da informação é uma combinação de fatores. A tecnologia traz a possibilidade, a ciência vem com a verdade e a arte, com a beleza e o apuro estético", define o professor. Estudioso do impacto da informática no comportamento da sociedade, Meira preside o Centro de Estudos Avançados do Recife (Cesar), organização não-governamental que coloca à disposição das empresas os cérebros mais brilhantes da universidade. O resultado vem na forma de soluções criadas pelos acadêmicos para suprir necessidades práticas das companhias. Meira também avalia o lado crítico da tecnologia. "A missão primeira da computação sempre foi tornar a vida do ser humano mais fácil. Só que aconteceu o contrário. Ninguém previa tamanho aumento da competição no mercado de trabalho."
Tempos modernos – Depois de anos a fio apertando porcas e parafusos nas linhas de montagem das fábricas de automóveis, o ser humano buscava eliminar atividades repetitivas. Pouco a pouco, as máquinas foram eliminando tarefas fatigantes (muito bom!) e substituindo postos de trabalho (nada bom!). No início do século, as fábricas concentravam as massas de trabalhadores. Agora as mãos foram trocadas por eficientes braços mecânicos. Como resultado surgiu uma sociedade baseada na troca de serviços, onde a informação é uma preciosidade, verdadeiro mecanismo de poder. O sociólogo italiano Domenico de Masi relata em seu livro A sociedade pós-industrial (Ed. Senac) que existem mais de mil nomes para designar a fase na qual vivemos. As definições vão desde Sociedade do Capitalismo Avançado, como chamou o economista canadense John Kenneth Galbraith, até Terceira Onda, na opinião do futurólogo americano Alvin Toffler. Ou ainda era da descontinuidade, como preferiu o guru das empresas Peter Drucker. Independentemente do nome escolhido, o que importa é que a vida mudou. "Nos últimos 25 anos deste século que se encerra, uma revolução tecnológica com base na informação transformou nosso modo de pensar, produzir, consumir, negociar, administrar, comunicar, viver, morrer, fazer guerra e fazer amor", escreve o sociólogo catalão Manuel Castells, em O fim do milênio (Ed. Paz e Terra), último volume de uma trilogia monumental sobre as influências da era da informação na sociedade e economia.
Do mesmo modo como rompeu fronteiras geográficas ao aproximar pessoas que se conversam apesar de estar em continentes distintos, o e-mail também alterou a percepção do tempo. Tudo parece mais rápido no mundo da competição globalizada. Fecham-se negócios na rapidez com que uma mensagem pisca na tela. E, se hoje é alto o índice de pessoas que tomam decisões diariamente pelo correio eletrônico, é bom lembrar que a falta de cuidados com o e-mail pode colocar uma empresa em apuros. Foi o que aconteceu com a Microsoft, acusada formalmente de práticas monopolistas por um juiz federal dos EUA. Além dos depoimentos, a acusação tinha como provas uma montanha de e-mails comprometedores. Na correspondência eletrônica, Bill Gates soltava o verbo. Distribuiu ordens para esmagar a concorrência, mencionou produtos, nomes e fatos. Tudo por escrito, com riqueza de detalhes. O que ninguém esperava era ver esses documentos na mão da Justiça, num processo aberto por Washington e mais 19 Estados contra a empresa do homem mais rico do mundo. Depois do susto, muitas corporações recomendaram que os funcionários apagassem documentos confidenciais. O mesmo vale para quem não quer que seus dados pessoais caiam em mãos indesejadas. Apesar da evidente falta de privacidade online, o e-mail revolucionou a forma de comunicação entre as pessoas.
PC sensível – Na conversa digital, contudo, desaparece um fator importante no relacionamento humano: a comunicação não-verbal, traduzida em gestos e expressões que a inteligência do computador jamais vai captar. Para amenizar esse obstáculo, os cientistas dedicam-se a criar máquinas capazes de reconhecer ao menos as expressões de face do seu dono. Atualmente os laboratórios da IBM e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conduzem pesquisas para criar máquinas capazes de capturar expressões de satisfação ou raiva de seus usuários. O objetivo é programar o computador para que ele dê respostas condizentes com a ocasião, como corrigir seu próprio erro e abrir um novo arquivo, por exemplo. Um dos projetos em estudo na IBM é uma tela com sensores embutidos para "pescar" o olhar de quem fica diante do PC. "Em vez de usar o mouse, os olhos poderiam guiar-nos pela tela", descreve Jean Paul Jacob, pesquisador brasileiro do laboratório da empresa em Almadén, no Vale do Silício, e professor na Universidade da Califórnia em Berkeley. "O objetivo da informática é tornar-se invisível aos olhos", explica Jacob. O que não se aplica necessariamente aos sentidos. Embora a idéia de clonar andróides e criar ciborgues esteja próxima apenas dos roteiros hollywoodianos de ficção-científica, existem esforços para que o computador assimile algumas das formas de percepção oferecidas pelos cinco sentidos humanos. A sinergia dos sentidos e da máquina, aliás, foi o tema de debate de diversos especialistas reunidos na Universidade de Chicago, em outubro passado. "Está cada dia mais sutil a fronteira entre a medicina, a física, a biotecnologia e o trabalho dos artistas da era digital", conta Analivia Cordeiro, bailarina que representou o Brasil no congresso de Chicago. Filha do artista plástico Waldemar Cordeiro – pioneiro no País a fazer arte com computação, no início da década de 70 –, Analivia criou um programa para estudar o movimento do corpo e reproduzi-lo em aulas de dança. Outro artista brasileiro que traz a tecnologia na pele é Eduardo Kac, também professor da Universidade de Chicago. Ele implantou um chip no tornozelo e cadastrou-se pela Internet num banco de dados de animais perdidos. Fez isso para mostrar que, no futuro, poderá carregar o chip com dados que ficam armazenados para sempre em seu corpo. Outro de seus projetos é a criação de um cachorro transgênico, que terá inserido no seu DNA trechos do código genético de uma água-viva. Assim, o cão emitirá luz verde fluorescente quando exposto ao sol, como acontece com a água-viva.
Contra o relógio – A mesma tecnologia que oferece uma nova maneira de fazer arte também serve para aumentar a produtividade. Os aparelhos digitais tornam qualquer um localizável a qualquer hora do dia ou da noite. Resultado: trabalha-se demais. "Para continuar competitivas internacionalmente, as empresas não podem contratar funcionários. Quem tem emprego trabalha muito e quase não há distinção entre trabalho e lazer", analisa Silvio Genesini, sócio-diretor da Andersen Consulting, uma das cinco maiores consultorias empresariais do mundo. Assim como ocorreu no século passado, quem estiver preparado para a evolução da sociedade tem mais chances de sobreviver na economia globalizada e baseada na informação digital. O problema é que nem sempre estar preparado para o mercado de trabalho significa arrumar emprego. Segundo Domenico de Masi, professor na Universidade La Sapienza, em Roma, os aparelhos tecnológicos, em conjunto com novas formas de organizar a produção nas corporações, "liberaram um número cada vez maior de pessoas de seu trabalho e, consequentemente, de seu salário. Infelizmente, a evolução social é muito mais lenta do que a científica e a tecnológica, por isso é difícil implementar os mecanismos de redistribuição das tarefas de modo que seja possível trabalhar menos e todos possam trabalhar".
A velocidade dos avanços tecnológicos é tão alucinante que a fabricante de relógios Swatch criou um horário específico para a Web. Nesse novo sistema, o dia começa à meia-noite. Mas o marco zero não é o meridiano de Greenwich e sim a cidade suíça de Biel, sede da Swatch. O dia digital foi dividido em mil beats (batidas, em inglês). Cada um equivale a um minuto e 26,4 segundos. Enquanto um relógio convencional mostra meio-dia, o tempo da Internet indica @500. Com isso, afirma a fabricante suíça, podem-se marcar reuniões por e-mail ou videoconferência sem se preocupar com fuso horário. Embora pareça excentricidade, é certo que no mundo digital não há mais diferença entre fazer negócios, trabalhar, divertir-se ou comprar durante o dia ou à noite, no fim de semana ou nas férias. "O tempo intemporal passou a substituir o tempo cronológico da era industrial", decreta Manuel Castells, professor na Universidade da Califórnia em Berkeley. Todo dia, a qualquer hora, em qualquer lugar, sempre é hora de trabalhar. Foi pensando nisso que o hotel Ritz-Carlton de Kuala Lumpur, na Malásia, resolveu criar uma diária de 24 horas que começa na hora em que o hóspede chega ao quarto. Em função do fuso horário, um executivo americano que decolou de Los Angeles de dia pode pousar na cidade às três da madrugada. Ele não vai mais precisar aguardar o check-in do dia seguinte. Nem botar as malas fora do quarto ao meio-dia no dia da partida.
Os reflexos da nova sociedade são mais visíveis na economia, mas a esfera política também precisa adequar-se. Em Washington, os analistas comemoram o fato de que candidatos antes alijados do processo eleitoral por falta de recursos hoje disputam o mesmo espaço com políticos dotados de orçamentos milionários: um site na Web. "Na próxima década haverá a convergência entre telefone, televisão, satélites, emissoras de TV a cabo e Internet. O usuário então terá muito mais poder para decidir o que lhe interessa", diz o venezuelano Gustavo Cisneros, presidente do Grupo Cisneros. Eleito há dois anos um dos homens mais poderosos do mundo pela revista americana Vanity Fair, o magnata latino-americano das comunicações comanda 12 emissoras de tevê, a operadora por satélite DirecTV e tem 50% do provedor de acesso que a America Online acaba de inaugurar no Brasil. "O acesso aos meios tecnológicos garante uma pressão muito maior da sociedade sobre seus governantes", resume Cisneros. No cenário internacional, a revolução digital deixa evidente que a ameaça pode partir de um único PC escondido num remoto canto do planeta
Movimento Hippie
Espalhados em feiras de artesanato, nas esquinas, nas ruas, em portas de bares e bazares, os herdeiros do movimento hippie norte-americano - que protestou contra a guerra do Vietnã e suplicou por paz e amor - dispensaram a ideologia e ficaram apenas com a sobrevivência através da arte. “Micróbios”, “Artesãos”, “Malucos” ou “BR”, como se intitulam; não possuem moradia fixa, viajam para todos os cantos do país e atestam que o “movimento hippie morreu”.
As influências permanecem: são contrários ao estilo de vida yuppie, que caracteriza jovens de 20 a 40 anos recém-formados em uma busca incessante pela ascensão na carreira e bens de consumo. Não suportam a hierarquia e regras do mercado de trabalho formal - principal motivo da escolha de um modo de vida alternativo. Produzem sua própria arte com instrumentos simples como alicate, martelo, tesoura e arame. A bebida, o fumo e os alucinógenos são inseparáveis companheiros de estrada.
“O que sobrou do movimento hippie é isso: “arte na veia”, explica o artesão Raul Andrade, 27 anos. Raul já vagou pelas ruas sem rumo, “dava uma de micróbio”, diz. Hoje tem endereço fixo, mas vive viajando. Quando perguntado sobre o que caracteriza o hippie, argumenta: “Alguns cultivam a arte”. Tem cara que sobe em poste e pega cabo de telefone para fazer um colar. Esse eu considero hippie, agora tem gente que compra na Rua 25 de março e vem vender na Avenida Paulista”.
Maria Emília, 49 anos, é das antigas. Abandonou o curso de letras na Unicamp em 1979 e foi viver em uma comunidade rural no Mato Grosso. “Foi uma experiência interessante, mudei muito”. Maria hoje vive de vender artesanato na Angélica, avenida de classe alta em São Paulo. Sobre o movimento hippie, acredita que já passou, mas lembra conquistas. “O movimento já não cabe nesse sistema, mas muita coisa mudou. Não é mais um choque fumar na rua ou usar esse ou aquele tipo de roupa”.
Os atuais “hippies” passaram a ser divididos em categorias: o micróbio é o que mora nas ruas, é desencanado com a aparência e geralmente consome mais drogas que os demais; o artesão vive da sua própria arte, faz tudo com originalidade, mas é ligado à família e tem moradia fixa; os malucos são um misto de micróbio e artesão: têm casa, vivem da arte, mas de vez em quando não resistem à boemia; e o BR é o que fica nas estradas pedindo carona e viajando pelo país.
Raul chega a vender um colar por R$1,50. “Demoro uma semana para confeccionar um colar desse”. Na banca, o ex-micróbio com carteirinha de artesão emitida pela prefeitura, tem outros artefatos interessantes, como dentes de javali e uma bolsa feita com a pele de uma cobra que encontrou na Serra da Cantareira, vendida por R$ 50,00. Interrompido por uma artesã que pergunta se qualquer um pode expor, Raul demonstra a irmandade dos hippies: “É só chegar e arrumar um espaço livre”.
Alguns produtos comercializados causam problemas com a polícia como as maricas, espécie de cachimbo usado para tudo - inclusive para o consumo de crack. “Tem um monte de tabacaria que vende marica, mas como estamos na rua, os caras querem tomar nossa barraca e falam em apologia”, revela o artesão Pablo Alexandre, 25 anos. Sua companheira de trabalho, Andressa de Moraes, de 18 anos, já recebeu críticas de clientes. “Tem gente que fala se não é melhor pra mim que eu tenha um emprego fixo, mas eu prefiro fazer o meu próprio horário”.
Daniel dos Santos, Vidal Antônio, ambos com 21 anos, e Peterson Mendes, de 22 anos, consideram-se “micróbios”.
Membros de um grupo de aproximadamente sete pessoas, vão para onde querem na base da carona e do dinheiro que conseguem com a venda de artesanatos. Daniel tem um pai que é artesão e faz barcos de madeira dentro de garrafas de vidro. Apaixonado pelo ofício desde criança, caiu no mundo: “Faço tudo de coração. Pego o dinheiro que recebo, bebo uma cerveja, fico louco e é isso” diz, revelando nenhuma aspiração de consumo.
“Não somos hippies, o movimento ficou no passado, pertence a um grupo de um tempo específico, mas vivemos da nossa arte e estamos fazendo nossa própria vida”, revela Peterson, que se indigna com o tratamento que é dado ao trabalho do artesão no Brasil. Na presença da reportagem do Guia da Semana, parava pessoas na Avenida Paulista: “Você quer dar um minuto da sua atenção à arte brasileira?”. Sem resposta, conclui: “é por isso que ainda representamos um movimento de resistência”.



O Hippie ficou Pop

Outro fator importante na cultura hippie foi a popularização que alcançou - até a Sandy interpretou uma no papel de Cristal da novela Estrela-Guia. Presentes nos mais variados artigos, roupas, acessórios, incensos, batas, saias, é possível encontrar hippies e seus artesanatos em feiras espalhadas pela cidade: em São Paulo, na Praça da República e na Avenida Paulista é comum encontrá-los durante a semana, mas são realizadas feiras especiais aos sábados e domingos. Na feira da Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, além de antiguidades, a cultura hippie também pode ser vista aos sábados. Moda hippieMuitas peças e acessórios foram eternizados por meio dos hippies: estampas multicoloridas, tecidos de estilo cashmere de roupas indianas, calças boca-de-sino com sapatos plataforma, bordados em roupas e bolsinhas de mão, bolsas de crochê, faixas na cabeça, óculos de sol redondos, brincos compridos, lenços, etc. E os neo-hippies?São os que de algum modo acreditam no ideário hippie, mas não cultivam o mesmo estilo de vida de seus antecessores. Criticam o Bush e a guerra do Iraque, embora não representem um movimento maciço de contestação. São considerados por muitos críticos como apenas um movimento de moda da classe média alta - alavancada pelas raves e a cultura trance nos anos 90. Dreadlocks, roupas coloridas, malabares, alucinógenos e drogas sintéticas, bem como o revival de clássicos do psicodelismo dos anos 70 são outros estereótipos que compõem os chamados neo-hippies.





A Queda do Muro de Berlim na Comunicação...





A partir da queda do Muro de Berlim, em 09 de novembro de 1989, muito se soube sobre o desencanto com o Socialismo e sobre o malogro de ideologias de esquerda que o tomavam como premissa básica. Porém, considero importante a reflexão sobre o que significou a denominada ‘falência’ do Socialismo para as forças partidárias e políticas de esquerda de nosso país, buscando saber até que ponto estes ideais socialistas sobrevivem e permeiam tais ideologias, constituindo-se numa alternativa política e social para o Brasil.
Em termos de Brasil, a queda do Muro de Berlim permitiu que a direita tradicional, junto com o discurso internacional do fim do socialismo, fizesse uma campanha de ‘morte do socialismo’. Nos movimentos sociais e nas organizações de esquerda, houve muita confusão. Setores que sempre foram contra o socialismo real se sentiram abatidos também. Os trabalhadores, os proletários, aqueles de classes menos favorecidas foram bombardeados com a idéia do fim do socialismo, o que gerou uma perda de referências ideológicas. Vemos que o país passou a ser alvo de políticas de consolidação da hegemonia dos EUA, que buscavam efetivar aqui a abertura de mercados sob seu domínio; um processo iniciado a partir da crise dos partidos de esquerda e com a ascensão do governo Collor (1990 a 1992). No Brasil, a partir da vitória de Collor e em uma conjuntura internacional favorável ao imperialismo, houve a implantação para valer do neoliberalismo: privatizações, sucateamento da economia nacional, abertura total da economia e desemprego crescente. No plano político, marasmo e derrotas nos movimentos sociais e adaptação cada vez maior das direções de esquerda ao regime – fator preponderante na explicação das vitórias do neoliberalismo nesse período. A falta de um programa mais articulado e alternativo ao capitalismo, aliado a um regime socialista internacional bastante vulnerável, autoritário e em franca decadência, resultou na marginalização dos PCs, sobretudo entre as classes subalternas. Os PCs brasileiros mantiveram estruturas partidárias do Leste europeu e não conseguiram projetar um programa com especificidades brasileiras. Não obstante, os partidos brasileiros de esquerda deixaram em segundo plano muitos referenciais que possibilitavam a pressão das classes subalternas em relação às dominantes, abrandando as lutas de classes, passivizando as ideologias de esquerda e desenvolvendo uma política contrária ao radicalismo grevista, característico dos anos de 1970 / 1980. Tomemos como exemplo o PT (Partido dos Trabalhadores), um partido de esquerda independente da década de 1980, que mantinha maior identidade com as classes menos favorecidas. No final da década, com o colapso socialista, sob a tentativa de se reformar, o PT caiu em um programa democrático que variava entre uma democracia representativa e uma tentativa de constituir uma democracia participativa – ambos os projetos extremamente precários e superficiais. Neste processo confuso, com tendências à diminuição das tensões classistas, a esquerda brasileira se viu envolvida em constantes contradições, o que favoreceu o avanço das políticas de direita no país. Imperou a partir de então, não somente no Brasil, mas também internacionalmente, uma profunda e visível desorganização partidária, que facilitou a consolidação de projetos conservadores no período pós-desestruturação do socialismo. Com os acontecimentos de 1989, o PT passou a problematizar a questão democrática e os paradigmas utilizados nos partidos de esquerda até então, por exemplo, a centralidade da luta nas causas proletárias pelo socialismo, um dos principais fatores que desencadearam a crise do socialismo no interior do PT. A maioria das correntes de esquerda, ainda que sem admitir expressamente, adaptou na prática sua política à tese de ‘morte do socialismo’, passando abertamente a se propor a administrar o capitalismo e se integrando à defesa do regime democrático burguês, tendo como eixo absoluto de atuação as instituições deste regime. A queda do Muro pegou o PT em plena campanha eleitoral e, em primeira instância, não afetou o partido, que chegou ao segundo turno das eleições. Foi no segundo turno que os partidos liberais passaram a usar a queda do Muro de Berlim contra o PT, apelando para a modernidade, frente aos projetos derrotados da esquerda internacional.Assim, a proveniente derrota de Lula, em 1989, entrou para o rol de todas as derrotas da esquerda internacional, trazendo a crise do socialismo para o Brasil, quando também alguns aspectos referentes ao socialismo e aos métodos para alcançá-lo passam a ser questionados – surge a era do ‘consenso democrático’. O momento vivido pelo Brasil era de implantação do projeto neoliberal e foi justamente aí que, em virtude da situação mencionada, o sindicalismo passou por fases de imobilismo, de redução de greves e tensões, revelando o primeiro dos grandes refluxos vividos pelas bases do PT. Não obstante, a crise do socialismo gerou, para o PT, acontecimentos que vieram a reorganizar suas posições, no sentido de tentar ampliar suas bases sociais e sua intervenção nas classes subalternas e médias. A organização do proletariado era o elemento identitário mais forte do PT na sua fundação e foi justamente esta identidade que mais sofreu depreciações com o colapso do socialismo. Enquanto isso, tendências internas do PT passavam a excluir do partido as forças que não se enquadravam nas normas partidárias, como foi o caso de um de seus grupos internos: a Convergência Socialista (CS) que, em 1992, foi levada a se retirar do partido. Sobre esta cisão interna do PT, Altemir Paulo Cozer contribui: “(...) a Convergência Socialista, corrente de orientação trotskista, que sempre combateu a deformação do socialismo colocada em prática por Stalin desde 1923. Nós vibramos com a queda do Muro e do aparato stalinista.
Classificamos os movimentos que derrubaram o muro e a URSS, como revoluções, como dizia Trotsky, revoluções políticas. Foram movimentos de massa contra a burocratização e a queda do nível de vida da classe imposto pela burocracia. Nós nos dedicamos a divulgar os fatos do leste europeu como uma vitória dos trabalhadores do mundo todo. Combatemos a ofensiva ideológica imperialista do fim do socialismo. E reafirmamos que a revolução socialista e o socialismo estavam mais vivos do que nunca.”20 É consenso, entre os entrevistados, que um dos mais polêmicos aspectos da crise do socialismo foi a sua correlação com a chamada crise do proletariado, bem como o êxito obtido pelo PT em crescimento eleitoral e, em contradição, seu fracasso, sob a forma do avanço do projeto neoliberal, que privou seu discurso do apoio das massas, já que o nacionalismo estava desgastado pela globalização. A vitória do neoliberalismo no período em questão, o discurso do fim do socialismo, a política das direções mais reconhecidas da esquerda de adotar a defesa do regime democrático burguês e a administração ‘humanista’ do capitalismo provocaram profundas mudanças na consciência da sociedade e, em particular, da vanguarda mais participativa e militante. É o que comprovam as palavras de Victor Hugo Ghiorzi: Na população em geral, após o ‘soluço’ da queda de Collor, canalizado para a institucionalidade com a assunção de Itamar Franco, houve um recuo
imenso na participação em processos políticos não eleitorais: greves, passeatas, mobilizações, protestos, dias de lutas, etc. A vanguarda, em sua esmagadora maioria, dividiu-se entre o caminho de casa e o dos gabinetes, representada pelo acompanhamento da política das direções.21 Sem sombra de dúvidas, ocorria no mundo uma grande mutação, que marcaria a virada da história do século XX. As mudanças mais visíveis nos partidos de esquerda do Brasil culminaram, em 1992: no PT, com a expulsão da tendência minoritária da Convergência Socialista e a conseqüente formação do PSTU; no PCB, com mais uma secessão do partido e a formação do PPS; no PC do B, com a adoção de um novo discurso trazendo críticas (até então inéditas ao partido) ao stalinismo. Na transição da década de 1980 para a de 1990, o resultado desta crise ainda era uma questão aberta, mas que dava margens a prever que as alternativas para as esquerdas viriam sob a forma da busca de um regime que se aproximasse da democracia socialista.

Porém, é importante termos em mente que os debates que tratam sobre a ascensão das esquerdas ao poder não surgem de maneira repentina, exatamente emseguida ao episódio da queda do Muro de Berlim e do declínio do socialismo em âmbito internacional. Analisando fontes de relatos de reuniões e conferências internas dos partidos de esquerda, especialmente do PT, vemos que, ainda nos anos anteriores a 1989, as discussões sobre as posturas e os caminhos a serem tomados de forma a afirmar a esquerda política e socialmente já eram freqüentes. Em 1986, José Dirceu e Wladimir Pomar afirmavam que o PT enfrentava diversos desafios decorrentes de sua postura anticonservadora e que o Partido, como um todo, teria que fazer um grande esforço para entender a própria sociedade brasileira, correndo o risco de ver muitos de seus militantes abraçarem as respostas de grupos sectários (como de fato ocorreu). A perspectiva apontada no período era de se buscar uma ‘via socialista’ para o Brasil por meio do profundo conhecimento do capitalismo no país, de seu estágio de desenvolvimento e de suas formas de expansão. Neste contexto sócio-político, vemos que negar-se a jogar no mesmo campo que a centro-direita levaria a esquerda à marginalidade política, portanto esta última, nos anos seguintes ao declínio do socialismo, necessitava de um programa, uma alternativa que lhe desse o prumo. O dilema era ter que escolher entre a defesa de um modelo diferente (socialista) ou se adaptar e se moldar aos existentes, buscando modificar alguns de seus pontos sem, contudo, se opor por inteiro ao status quo.

Democracia e a Comunicação...

A história da democracia no Brasil é conturbada e difícil. Vencida a Monarquia semi-autocrática e escravista, e após a fase democratizante mas turbulenta da República da Espada de 1889-1894, a República Velha conhece relativa estabilidade. É, porém, a estabilidade oligárquica dos coronéis e eleições a bico de pena, que após 22 entra em crise. Com frequência sofre o trauma dos estados de sitio, ante movimentos armados contestatórios ou disputas intra-oligárquicas que fogem ao controle, para não falar da repressão a movimentos populares.
• A Revolução de 30 não efetiva sua plataforma de liberalização e moralização política. Vargas fica 15 anos à frente do Executivo, sem eleição. A ordem constitucional tardiamente instaurada com a Assembleia de 34 dura apenas 3 anos. Segue-se em 37-45 a ditadura do Estado Novo, com Parlamento fechado, partidos banidos, uma Constituição outorgada e ainda assim desobedecida, censura, cárceres cheios, tortura.
• A democratização de 45 sofre o impulso externo da derrota do nazismo. Internamente não enfrenta maior resistência, até porque o antigo ditador adere a ela, decreta a anistia, convoca eleições gerais, legaliza os partidos. A seguir, o golpe de 29/10/45 e o empenho conservador do gen. Dutra impõem-lhe limites. O regime instituído pela Constituinte de 46 é uma democracia formal. As elites governantes da ditadura estadonovista reciclam-se, aglutinam-se no PSD e conservam sua hegemonia. O gov. Dutra é autoritário: intervém em sindicatos, devolve o PC à ilegalidade, atira a policia contra manifestações.
•A instabilidade é a outra marca da democracia pós-45Após o golpe militar de 29/10/45, vêm os ensaios de ago/54, nov/55, ago./61 e outros menores. A UDN contesta as posses de Getúlio, JK e Goulart com apelos à intervenção das Forças Armadas. Confirmase a imagem, criada na Constituinte pelo udenista João Mangabeira, que compara a democracia a "uma planta tenra, que exige todo cuidado para medrar e crescer".
• O golpe de 64 trunca a fase democrática ao derrubar pela torça o pres. Goulart. Pela 1a vez no Brasil, as Forças Armadas não se limitam a uma intervenção pontual; assumem o poder político enquanto instituição, dando início a 2 décadas de ditadura.
• A ditadura militar de 64-85 é a mais longa e tenebrosa fase de privação das liberdades e direitos em um século de República. Caracteriza-se pelo monopólio do Executivo pêlos generais, o arbítrio, a sujeição do Legislativo e do Judiciário, as cassações, a censura, a repressão militar-policial, a prisão, tortura, assassinato e "desaparecimento" de opositores. Sua 1a fase, até 68, conserva resquícios de ordem constitucional e impõe certos limites à ação repressiva; a 2a, de 68-78, à sombra do Al-5, leva ao extremo o arbítrio e a repressão; a 3a, crepuscular, é de paulatino recuo, sob os golpes de uma oposição que passa da resistência à contra-ofensiva.
• A consciência democrática surgida na resistência à ditadura introduz um elemento novo na vida política. Pela 1a vez transborda de setores urbanos minoritários para as grandes massas, enraiza-se nos movimentos de trabalhadores das cidades e do campo, estudantes, moradores, intelectuais e artistas, ação pastoral da Igreja, órgãos de imprensa e outras áreas de uma sociedade civil que se organiza. Cria um vinculo em grande parte inédito entre direitos politicos e direitos econômico-sociais, um patamar novo de cidadania, mais abrangente e exigente. Sua expressão mais visível é a Campanha das Diretas-84. Depois dela, a ditadura negocia apenas as condições e prazos do seu desaparecimento.
• A democratização de 85 é conduzida pêlos moderados do PMDB e a dissidência do oficialismo que forma o PFL. Após a derrota da Campanha das Diretas, adota a via de vencer o regime dentro do Colégio Eleitoral que ele próprio criou. Negociada com expoentes do Sistema de 64, traz o selo da conciliação, típico das elites brasileiras desde 1822. Mas traz também a marca da ebulição politico-social de massas que na mesma época rompe os diques erguidos desde 64. O resultado, expresso na Constituição de 88, é uma democracia mais ousada e socialmente incisiva, se comparada à de 45, embora sua regulamentação e aplicação permaneçam sempre aquém do texto constitucional.
•O impeachment de Collor põe à prova as instituições da Nova República. Estas passam no teste sem quebra da ordem constitucional democrática, graças a intensa mobilização da opinião pública e a despeito do apego do presidente a seu cargo. Porém a emenda constitucional que institui a reeleição (28/1/97) e várias outras cogitadas pelo bloco de apoio ao gov. FHC (volta do voto distrital, fidelidade obrigatória, restrições à liberdade partidária) indicam que o regime político está longe de estabilizar-se.
• O sistema de governo, presidencial ou parlamentarista. é submetido a plebiscito em 21/4/93, por determinação da Carta de 88. Embora as elites se apresentem às urnas divididas, o eleitorado reafirma o presidencialismo em todos os estados e por expressiva maioria (mais de 2/3). motivado em especial pela defesa da eleição direta para presidente.





•O Brasil pós-30, visto em perspectiva, alterna longos períodos de ditadura e instabilidade e momentos, bem mais curtos e não menos conturbados, de certo revigoramento democrático (30-35, jan-out/45, 56-64). Em 7 décadas. apenas um presidente (Juscelino) consegue a proeza de eleger-se pelo voto, cumprir o mandato e empossar um sucessor também eleito, A democratização pós-85 ainda é apenas uma promessa de superação desse ciclo histórico.
• As Forças Armadas intervêm pela violência na vida política da República, com frequência e desenvoltura crescentes, até estabelecerem seu monopólio sobre o poder com o regime de 64.0 jacobinismo republicano florianista desdobra-se no tenentismo dos anos 20 e desagua na Revolução de 30, já cindido em 2 vertentes opostas. Uma, nacionalista e com sua ala esquerda, engaja-se na campanha do Petróleo é Nosso, garante a posse de JK em 55 e Goulart em 61, forma o dispositivo militar do gov. Jango. Outra cria estreito vinculo com os EUA após a Campanha da Itália, assume a ideologia da Guerra Fria, empenha-se nos pronunciamentos militares de 45-61, protagoniza a conspiração anti-Jango e o golpe de 64. Entre outras coisas, 64 representa um ajuste de contas entre as 2 tendências, com a derrota estratégica embora não definitiva da 1a.
• O regime militar degrada seriamente a imagem das Forças Armadas. Afora o desgaste inerente ao exercício de uma função alheia à sua natureza, o estamento militar arca com os revezes econômicosociais e, sobretudo, com o ónus da repressão, das torturas e assassinatos. Embora a maioria dos oficiais e praças não se envolva diretamente na ação repressiva, toda a corporação acaba afetada pela conduta dos órgãos de segurança e seu comando, que se confundem com ó regime.
• A volta aos quartéis inicia longa e muda purgação. Porta-vozes militares opinam durante a Constituinte sobre o papel das Forças Armadas; mais tarde propõem o esquecimento do passado repressivo nos anos de chumbo; mas em geral silenciam, mesmo no delicado episódio do impeachment. Entretanto, o fim da Guerra Fria e a globalização sob a égide dos EUA reabrem o debate sobre Forças Armadas e soberania nacional em países como o Brasil, ao proporem, por exemplo, a internacionalização do combate ao narcotráfico, da preservação ambiental e em especial da Amazónia. Os militares brasileiros enfrentam, ao lado do peso do passado, do corte de verbas e da rebaixa dos soldos, o desafio de formular um pensamento estratégico pós-Guerra Fria.
• Uma humilhante derrota macula os 1" passos do parlamento brasileiro: a 12/11/1823 d. Pedro l dissolve pela força a 1a Assembleia Constituinte aberta 6 meses antes; o dep. António Carlos de Andrada, ao deixar o prédio cercado pela tropa, tira o chapéu com ironia para "Sua magestade, o canhão". Cria-se ai um padrão: a submissão do legislador ao canhão.
• O parlamento é débil desde o Império, onde o monarca nomeia os senadores e dissolve a Câmara quando lhe convém. Vinda a República, o pres. Deodoro decreta em 3/11/1891 o fechamento do Congresso, não etetivado porque o governo cai em seguida. A República Velha mantém o legislativo aberto, mas degrada-o com as degolas que manipulam sua composição. Após a Revolução de 30 o Brasil fica 3 anos sem Congresso [3.2], volta a tê-lo por outros 4 e passa mais 8 sem ele. A República de 45 em certa medida fortalece o legislativo. Mas o regime de 64 submete-o aos piores vexames, do simulacro de eleição de Castelo ao Pacote de Abril, passando pelo Al-5.
• Os partidos políticos refletem essa debilidade, a vida democrática precária, intermitente ou inexistente, e certo pragmatismo da elite governante, avesso a engajamentos ideológicos ou programáticos. O sistema partidário brasileiro é frágil e instável inclusive em confronto com outros países latino-americanos.
•Os 1° partidos assim chamados, das vésperas do Grito do Ipiranga ao início das Regências, não são organizações. nem sequer agremiações, mas correntes de pensamento, fluidas e imprecisas. Só no debate do Ato Adicional de 1834 formam-se o Partido Liberal e o Conservador, a 1a geração de partidos propriamente ditos.
•A República varre com as agremiações da Monarquia e produz a 2a geração partidária. Sua característica é a fragmentação em legendas estaduais, acompanhando o federalismo centrífugo da época. Predominam os Partidos Republicanos, alguns formados antes de 1889 (o de SP é de 1873), todos (exceto, em parte, o do RS) com precária nitidez programática e estruturas fluidas, descentralizadas, assemelhadas a confederações de coronéis.
• O Partido Comunista foge a esta e outras regras. Fundado em 22. como seção da 3a Internacional, com bases no movimento operário, tem caráter nacional e perfil programático e ideológico incisivo (revolucionário, marxista). Mesmo proibido, clandestino, perseguido, às vezes selvagemente (35-42, 64-79). mesmo assim atravessa as sucessivas gerações partidárias da República.
• Os revolucionários de 30 não conseguem estruturar um partido próprio, permanecendo no estágio mais rudimentar dos clubes (Legião Revolucionária, Clube 3 de Outubro). As siglas criadas em 31-37 chegam a centenas, mais uma vez com abrangência estadual (a Ação Integralista é a exceção mais notável). O golpe do Estado Novo dissolve a todas, sem maior resistência, e assume o discurso de que os partidos são uma ameaça à unidade nacional.
•A democratização de 45 introduz novidades. Os partidos da 4a geração ]têm, na maioria, caráter nacional, um mínimo de consistência programática e identidade própria. No entanto, as tensões políticas que se agravam levam ao seu esgarçamento, acelerado nos anos 60. As principais legendas se dividem em questões decisivas, cristalizando alas que atuam e votam à revelia das deliberações partidárias. A vida política e polarizada por coligações e frentes informais, que não coincidem com as siglas existentes, que João Mangabeira considera "mais partidas e partilhas do que propriamente partidos". Uma reestruturação de vulto parece iminente quando sobrevêm o golpe de 64, preparado e desfechado à margem dos partidos; no ano seguinte, o Al-2 encerra a experiência pluripartidária.
•O bipartidarismo imposto pelo Al-2 (27/10/65) realiza um antigo sonho conservador ao unificar na Arena o PSD e a UDN, sob a batuta do regime militar e com a tarefa de dar-lhe sustentação politico-parlamentar e eleitoral. No PMDB ficam os que se opuseram ao golpe, depurados pelas cassações. Seus defensores invocam o modelo dos EUA, e/ou a instabilidade derivada de um número excessivo (13) de siglas. Mas a experiência bipartidária acaba voltando-se contra seus autores, tendendo progressivamente a transformar cada eleição em um julgamento plebiscitário do regime de 64. A Arena, criada para ser governo, reflui, enquanto avança o MDB, a começar pêlos grandes centros urbanos. Antes de confrontar-se com uma derrota eleitoral decisiva que parece inelutável, o regime muda novamente as regras do jogo: encerra a 5a geração partidária, impõe a extinção compulsória da Arena e do MDB e a volta do pluripartidarismo.
• O quadro partidário atual forma-se a partir da reforma de 22/11/79, em um quadro de ascenso dos movimentos politico-sociais de massas, fim do Al-5, anistia e retorno de certas franquias democráticas; o regime militar resiste, mas já em seu crepúsculo. Nesta 6a geração o corte não é tão abrupto: o PMDB é em essência continuação do MDB; o PDS-PPR-PPB dá sequência à Arena: o PDT recupera em parte a herança, o perfil e os quadros do PTB pré-65. O novo leque partidário sobrevive à democratização de 85, mas sofre deslocamentos de vulto: o PMDB, após as dissidências originadas pela reforma de 79. sofre em 88 outro cisma, que dá origem ao PSDB; o PSD divide-se na crise de 84, quando surge o PFL; em 85 o n° de siglas sobe bruscamente, para mais de 40, mas em geral sem maior expressão: os comunistas alcançam afinal uma legalidade relativamente estável; em 97 o PT, PDT e PCdoB formalizam na Câmara um bloco oposicionista.
•As gerações partidárias brasileiras, em resumo, são; a fase preliminar dos partidos inorgânicos, somando 14 anos (1820-1834); a 1a geração, do Império, com 55 anos (1834-1889); a 2a, da República Velha, 41 anos (1889-1930); a 3a, pós-30, 7 anos (30-37); superado o interregno estadonovista, vem a 4a geração, com 20 anos (45-65); a 5a. pós-AI-2, dura 14 anos (65-79); e há a 6a, a partir da reforma de 79, ainda em curso.
•O Congresso dos anos 90 funciona sem interrupções desde 15/4/77, um recorde não atingido desde 30. Forma o núcleo do Colégio Eleitoral que encerra em 15/1/85 o ciclo de 64. Atendendo a forte pressão da opinião pública, decide o impeachment de Collor (29/9-30/12/92). Entretanto, vive problemas estruturais e de imagem que permitem falar em uma crise do Legislativo.
•A distorção nas bancadas estaduais na Câmara, acentuada pela ditadura e mantida pela Constituinte, dá ao eleitor de RR peso 18 vezes superior ao do de SP. Os estados menores são super-representados em detrimento dos maiores, também os mais urbanizados, com sociedade civil mais organizada e reivindicativa: SP conta 70 deps. federais (o teto permitido) quando a proporcionalidade indicaria uma bancada de 110.
•A relação com o Executivo, vencida a coação ditatorial. não evolui para a independência e harmonia, O Executivo, na falta dos Decretos-Leis aprovados por decurso de prazo sob a ditadura, substitui-os pelas medidas provisórias, editadas e reeditadas com crescente semcerimônia pêlos presidentes da Nova República. Estes garantem maiorias parlamentares governistas em um balcão de negócios que vai do tisiologismo aético ao suborno ilegal; a gestão Sarney vale-se da outorga de 1.091 concessões de rádio e TV; em 16/4/97 vem à luz a denúncia, abafada mas não desmentida, da compra de votos de deputados do AC para votarem a emenda constitucional que permite a reeleição de FHC. A imagem do parlamento e dos parlamentares (malgrado as exceçòes) se degrada, associada à inoperância, oportunismo e corrupção, mas o descrédito, paradoxalmente, apenas reforça o status-quo.