domingo, 23 de novembro de 2008

Revista Realidade:Fatos que chocaram uma época

Durante o regime político autoritário nascia a revista que viria a ser um marco no jornalismo literário brasileiro. Uma revista que chocaria com suas imagens, que abordaria questões sociais até então ignoradas e que faria reportagem social. O ano era 1966. O mês: Abril. Seu nome: Realidade.
Inspirada no new journalism norte-americano, a revista Realidade transformava em texto, os acontecimentos sociais. O jornalista tinha contato direto com a realidade que se propunha a retratar. A riqueza dos detalhes narrados se dava pelo trabalho que o repórter tinha de participar da vida do personagem, transformando-se, ele mesmo, num personagem.
O objetivo da revista era mostrar a realidade, nua e crua, portanto, chocar. Considerando a época e o momento político e, comparando com as revistas atuais, nenhuma outra chocou tanto quanto a Realidade. Uma reportagem sobre a Amazônia mostrava imagens de uma onça totalmente sem pele e ensangüentada, em carne viva. Sem dúvida, uma imagem chocante.
Existe uma diferença entre narrar tentando participar de um fato e sofrer um fato na pele. O repórter José Hamilton Ribeiro, integrante da equipe de Realidade, participou da cobertura da guerra do Vietnã e pisou sem saber, numa mina terrestre. Com isso, perdeu parte da perna esquerda. Ele sofreu o fato. Na edição de maio de 1968, o repórter descreveu todo o sofrimento e recuperação. A matéria publicou uma imagem dele ferido.
O diferencial e a ousadia da revista devem ser considerados, principalmente pelo contexto histórico. O preconceito e o moralismo eram muito fortes. Os militares censuravam todos os veículos de comunicação. A época era a mesma e o AI-5 levou ao fechamento o jornal carioca Correio da Manhã.
O mesmo golpe sofrido pelo ‘Correio da Manhã’, sofreu-o também a revista Realidade. Em 1968 o aparecimento do terrível AI-5 ameaçava de morte a publicação. A censura e a pressão sobre os jornalistas fizeram com que eles se demitissem, desmanchando a equipe. Porém, nem tudo estava perdido. Foi feita uma tentativa para reerguer a revista, reunindo alguns dos seus integrantes. Mas, se nem tudo estava perdido, também não era mais a mesma coisa. Com a nova fase, a Realidade passou a ser uma revista a mais. Sem brilho. Sem diferença.
A venda dos exemplares decaía. Em março de 1976 a Revista foi encerrada. Era o fim de uma revista que marcaria um período na história. Um período de uma dura realidade. E, acima de tudo, o fim de um exemplo de jornalismo social e humanitário.
Durante seus 10 anos de existência, a revista Realidade ganhou alguns prêmios, entre eles:
• “Brasileiro go home” (1966);
• “A vida por um rim” (1967);
• “Do que morre o Brasil” (1968);
• “Marcinha tem salvação: amor” (1969);
• “Amazônia” (1972);
• “Seu corpo pode ser um bom presente” (1973).